terça-feira, 18 de março de 2008

Metrô: A extensão das linhas não aumenta, mas a passagem...

Como sabemos, a prioridade do governo paulista, há quase 14 anos na mão da tucanada, não é promover um transporte público acessível e de qualidade para todos. É coerente que o PSDB e o DEM (ex-PFL), como representantes da elite, governem para quem anda apenas de carro. Mas não suporto vê-los tentando posar de benfeitores para os pobres. Se não estão nem aí para a população carente, sejam sinceros. Não se deve mentir. É feio.

O objetivo aqui não é escrever um artigo sobre o novo aumento da passagem do Metrô e dos trens da CPTM, mas postar um que escrevi em outubro de 2006 para o jornal Socialismo Revolucionário, na época, contra o aumento das tarifas de ônibus na cidade, que foi acompanhado por uma elevação da tarifa do Metrô e da CPTM. Eu tive o privilégio de participar do Movimento Passe Livre (MPL) e, por isso, acabei me envolvendo bastante com a questão.

Os perigos das PPPs (Parcerias Público-Privadas) foram citados, mas eu não imaginava que elas causariam a morte de 7 pessoas, como aconteceu após a abertura da cratera em Pinheiros, provocada devido – entre outros fatores – aos materiais vagabundos utilizados para baratear o custo da obra e garantir os lucros dos empreiteiros.

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Barrar o aumento das passagens do transporte em São Paulo

No último dia 16 de novembro [de 2006], os paulistanos receberam a péssima notícia, anunciada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL), de que a tarifa vai aumentar no dia 28 de novembro, passando dos atuais R$ 2,00 para R$ 2,30. Este aumento é tão descabido que supera o dobro da inflação medida desde o último reajuste, em março de 2005. Enquanto o aumento da inflação, segundo o IPCA, foi de 6,9%, a passagem subiu 15%. Caso a tarifa tivesse aumentado de acordo com a variação do IPCA desde julho de 1994, ela custaria R$ 1,52 hoje.

A prefeitura de São Paulo argumenta que, mesmo com o reajuste da tarifa, a SPTrans – órgão municipal que gerencia o sistema de transporte coletivo da cidade – vai arrecadar menos do que gasta para operar o sistema, tendo um déficit mensal próximo a R$ 17 milhões. Essa é a desculpa para dar prosseguimento ao sucateamento do transporte público, com corte de linhas, diminuição da frota e outras formas esdrúxulas de diminuição de gastos, porém sem fechar a torneira de lucros dos empresários do setor, verdadeira causa do “rombo” no nosso sistema municipal de transporte.

Outro grave problema do aumento da passagem de ônibus é que ele traz consigo o aumento da passagem de trens e do metrô, hoje interligados pelo bilhete único.O tucanato gostaria que o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), elevasse a tarifa para R$ 2,60, evitando assim um desgaste do futuro governador José Serra (PSDB) no início de seu mandato. Esse plano faria com que a população pagasse desde já por um aumento que os próprios técnicos capitalistas avaliam ser necessário apenas para o meio do ano seguinte! Pode ser, também, que essa seja uma estratégia para assustar a população e depois “aliviá-la” com um aumento menor.
Atualmente, a integração do bilhete único (que permite até três viagens de ônibus e uma de metrô ou trem) custa R$ 3. No dia 28, vai passar a R$ 3,30 e, com o aumento do metrô, deve chegar a R$ 3,50.

A tendência é que os aumentos continuem, pois a linha 4 do metrô vive um processo de semi-privatização por parte do governo de São Paulo, através das PPPs (parcerias público-privadas). Essas parcerias são um verdadeiro saque aos cofres públicos: primeiro o governo concede a exploração da linha à iniciativa privada por cerca de trinta anos, depois ele financia os gastos dessas empresas via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e, por último, garante que, caso o número de passageiros seja menor do que o esperado no contrato, o governo pagará a diferença aos empresários. Grosso modo, as PPPs “estatizam” as despesas e “privatizam” os lucros. Sem falar, é claro, na perda de qualidade do sistema e das condições de trabalho dos metroviários, bem como a diminuição dos salários destes trabalhadores, visto que a prioridade absoluta será o lucro.

É necessário que a sociedade se organize e impulsione uma mobilização para barrar este aumento absurdo. Para isso, precisamos ter clareza sobre onde está a raiz do problema. O transporte público já é pago indiretamente através de impostos, assim como saúde e educação. Impedir que a tarifa aumente deve ser apenas um passo rumo à gratuidade da mesma. Devemos inverter a concepção mercadológica do sistema de transporte atual, tornando-o público de verdade, para garantir o direito de ir e vir da população. Entretanto, isso não será possível enquanto o lucro das empresas estiver acima das necessidades do cidadão. É preciso lutar incessantemente pela municipalização dos transportes em São Paulo e em todo o Brasil e aproveitar este momento de sensibilidade e indignação da população para garantir que o aumento não entre em vigor. Assim, mostraremos que o povo unido é forte e capaz de muito mais, desde que se organize e resista.

Muitas cidades importantes conseguiram barrar o aumento através da luta, sendo a mais famosa a Revolta da Catraca, na cidade de Florianópolis, que barrou o aumento em 2004 e em 2005. Com estes triunfos em vista, diversos movimentos sociais estão se organizando de forma conjunta em plenárias e comissões para promover atos e panfletagens com o lema: ”Se a tarifa aumentar, a cidade vai parar!”. É com esta convicção que chamamos a todos os companheiros e companheiras para a luta contra essa medida abusiva da prefeitura da Cidade de São Paulo!

Este texto foi publicado originalmente no jornal Socialismo Revolucionário n° 40, de novembro/dezembro de 2006.
Disponível em:

http://www.sr-cio.org/texto/juventude/aumento_passagem_sp_sr40.html

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