terça-feira, 18 de março de 2008

A criatividade como forma de luta contra o preconceito

O feriadão do Dia da Consciência Negra amanheceu ensolarado, e eu pretendia participar da atividade promovida pela Educafro (Educação e Cidadania para Afrodescendentes e Carentes) na região central da cidade. Não sabia direito o que iria acontecer, mas queria ir de todo o jeito.

Contudo, acabei acordando mais tarde do que deveria e perdi a missa que deu início à programação da entidade para o Dia de Zumbi. Mas, graças aos orixás, cheguei a tempo de presenciar uma das maiores demonstrações de criatividade que presenciei nos últimos tempos. (E vale deixar registrado que eu não tinha a intenção de escrever quando saí de casa. Aliás, eu não tinha sequer levado papel ou caneta para isso. Mas para tudo nesta vida dá-se um jeito... )

Aproveito a oportunidade para agradecer à Vivian, minha amiga (que eu considero irmã) e responsável por eu conhecer a Educafro, que, nesse feriado, esteve ao meu lado durante todo o tempo. Agradeço também ao Douglas – companheiro que coordena o movimento –, mentor da idéia fantástica, que reportei no texto abaixo.

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ONG incentiva doação de sangue para celebrar o Dia da Consciência Negra

Militantes da ONG Educafro inovaram no modo de celebrar a data destinada à comunidade afrodescendente. Por volta das 9h, os integrantes da organização se concentraram no Largo São Francisco, após a realização de uma missa na paróquia ali localizada. Eles tinham um objetivo um tanto quanto inusitado: doar sangue.

Esse ato simbólico, segundo Douglas Belchior, um dos coordenadores do movimento, teve como objetivo mostrar a disposição do povo negro em doar seu sangue, que durante os muitos anos de escravidão teria sido arrancado à força, mas que agora seria oferecido de maneira espontânea e solidária àqueles que dele necessitam. Afinal, para a Educafro, a data não existe apenas para festa, mas sobretudo para reflexão, exercício de cidadania e reivindicação. E a pauta levada por eles é grande, inclui mais verbas para educação, cotas para negros, aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e aplicação efetiva da lei 10 639, que institui a obrigatoriedade da disciplina História e Cultura Afro-brasileira no currículo oficial dos estabelecimentos de Ensino Médio e Fundamental do país.

A caminhada saiu do Largo São Francisco em direção à Avenida Paulista, onde aconteceria a IV Marcha da Consciência Negra, da qual participam diversas entidades e movimentos sociais. A pausa para a doação aconteceu aproximadamente ao meio-dia, no Hospital Beneficência Portuguesa, na região central. Mesmo debaixo de sol forte, boa parte das mais de 5 mil pessoas presentes quiseram doar sangue, o que só foi permitido a 223, devido à pequena estrutura da unidade receptora.

De acordo com os responsáveis pela atividade, o hemocentro utilizado foi o único da região que se dispôs a receber os doadores no feriado e a iniciativa permitirá que aqueles que não puderam realizar a doação na ocasião se animem a fazê-lo em outra oportunidade, dirigindo-se em pequenos grupos a hospitais de suas próprias regiões.

Não houve incidentes nem tumultos. Ao contrário, os freis ligados à Educafro e os policiais militares responsáveis pela segurança trocaram elogios em relação ao comportamento de ambos os grupos durante a atividade.

Este texto foi publicado originalmente no
Correio da Cidadania, em 21 de novembro de 2007. Disponível em:

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