terça-feira, 18 de março de 2008

O livro didático revolucionário

O texto abaixo, publicado no Correio da Cidadania em 3 de outubro de 2007, é uma resposta indignada aos grandes meios de comunicação que, comandados por Ali Kamel (das Organizações Globo), promoveram a desmoralização pública do professor Mario Schmidt e de seu trabalho. No caso, trata-se da coleção Nova História Crítica, que foi caracterizada como uma espécie de “panfleto comunista”. Em seguida, coloquei quatro comentários feitos por leitores do site, dos quais dois são professores de história. Aliás, o feedback foi ótimo. Recebi muitas mensagens de apoio, inclusive do diretor editorial da Nova Geração, o grande Arnaldo Saraiva.

O livro é revolucionário em todos os sentidos, mas não manipula ninguém. Do design à linguagem, o livro revolucionou o mercado editorial, conseguiu se inserir no mundo de crianças e adolescentes e cativou também professores de história dos quatro cantos do país. O autor e a editora Nova Geração merecem parabéns, e não um veto do MEC, como aconteceu.

Eu estudei, nas 7ª e 8ª séries, com os livros de Mario Schmidt e, por isso, tenho credenciais para falar sobre eles. Ao contrário de alguns jornalistas irresponsáveis que andam escrevendo besteiras por aí...

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A “Nova História Crítica” e a crítica da velha elite

Em um artigo repugnante – que mais parecia um choramingo direitista – publicado no jornal O Globo (18/9/2007), Ali Kamel dedicou-se a atacar o livro Nova História Crítica – 8ª série, de Mario Schmidt. Retirou do contexto uma série de trechos, classificados por ele como “os piores”. Um deles apresentava um quadro comparativo entre o capitalismo e o ideal marxista. O quadro, muito bem elaborado pelo professor Mario e execrado pelo jornalista, mostra também o que aconteceu no chamado “socialismo real”, sem poupar críticas. Pequeno detalhe que o jornalista global “esqueceu” – ou omitiu para poder, assim, apresentar o livro como uma cartilha marxista para doutrinar criancinhas inocentes. A verdade às vezes dói, e a apresentação integral do quadro, por si só, esvaziaria as acusações apaixonadas feitas por Kamel.

As Organizações Globo – corretamente criticadas no livro por seu histórico de manipulações políticas – não deixaram barato e pressionaram o Ministério da Educação (MEC), que veio a público anunciar que já havia vetado a participação da obra no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), que oferece ao professor de escola pública uma lista de livros para que este adote o que considerar melhor, ficando o governo responsável pela compra e distribuição. Cerca de 50 mil professores de todo o país, das redes pública e privada, já escolheram a coleção Nova História Crítica, tornando-a um verdadeiro sucesso editorial. A atitude do MEC, ao reprovar a obra em sua avaliação, atentou contra todos os princípios de liberdade: a de escolha, a de expressão e, sobretudo, a de se poder aprender e refletir sobre os acontecimentos históricos de maneira independente e crítica, indo muito além da “decoreba” de nomes e datas importantes – como querem os defensores desse obsoleto modelo tradicional.

Após O Globo trazer a polêmica acerca do livro à tona, os outros grandes jornais, como Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, endossaram as críticas de Ali Kamel. Supostamente em nome da verdade e da liberdade, esses veículos repetiram os trechos apresentados por Kamel e, de maneira irresponsável, desqualificaram um valoroso trabalho. O modo superficial e manipulador com que a questão foi tratada é assustador. Os meios de comunicação já citados apontaram erros de português no livro, que podem até existir, um aqui e outro acolá; erros que vez por outra também freqüentam as páginas desses mesmos jornais. Entretanto, erros de português podem ser corrigidos em uma próxima edição. O que mais chama a atenção é a coragem de, sem uma leitura integral prévia, os jornais acusarem o livro de conter erros conceituais, o que é uma mentira daquelas que só se consegue contar quando se tem uma enorme cara-de-pau ou um sangue demasiado frio.

Ah, a liberdade. Fundamento tão citado como a principal qualidade da sociedade capitalista. Mas que liberdade é essa senão a plena liberdade de se calar e obedecer às predeterminações da fraterna e intuitiva elite política e econômica? Pois é. A elite determina, o povo cumpre e a roda da história continua a girar. É assim que prega a hipócrita e pretensamente democrática cartilha liberal burguesa. Atender ao predeterminado, ser conivente com a sociedade injusta que aí está é ser imparcial; desafiá-la, julgá-la ou mesmo colocá-la sob uma simples análise crítica é ir contra a democracia, é ser tendencioso. E foi exatamente assim que aconteceu no caso do livro do professor Mario. (Que previsíveis se tornaram os burgueses... Onde estará a criatividade capitalista, geralmente atribuída à premissa – um tanto desumana – da competição?)

A obra em questão é extremamente didática – ao contrário do que disse a Folha de S.Paulo em editorial chamado “A lata de lixo da História” (20/9/2007). Contém charges, gráficos, ilustrações e outros recursos que facilitam a compreensão do período estudado e que dificilmente são vistos em outros livros. E, o que é mais importante, não há nele a pretensão de ser o dono da verdade. É com humildade que Mario Schmidt escreve, logo nas primeiras páginas, que o livro poderia ter sido escrito de outra maneira, tão válida quanto a dele. E deixa o alerta: “Por isso, nunca se esqueça de que duvidar e questionar são atividades muito saudáveis”. Se os jornalistas envolvidos nas matérias e editoriais sobre Nova História Crítica tivessem se dado ao trabalho de ler – ao menos – as suas dez primeiras páginas, certamente teriam aprendido muito. E, quem sabe, escrito muito menos bobagens.

Este texto foi publicado originalmente no Correio da Cidadania, em 3 de outubro de 2007. Disponível em:
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/939/

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“Quero registrar que compartilho da mesma revolta do autor desse artigo. Tive o privilégio de estudar com esse livro da 6ª à 8ª série e hoje faço faculdade de História. Bom saber que um simples livro didático tem incomodado tanto...”

Clara Couto

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“Grandioso o comentário de Max Luiz Gimenes sobre o veto ao livro Nova História Crítica. Eu, como uma das educadoras que sugeriu a adoção do mesmo na escola em que atuo, sinto-me menos angustiada ao saber que nem todos estão cegos e inertes com relação a uma questão tão absurda e abusiva como esta!”

Joelma Martins

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“Esse livro é o melhor livro de História com que já estudei. Esse senhor da Globo não pode fugir do passado dessa organização manipuladora. Me admira o que o MEC fez - onde está a democracia?”

Sandra Cristina de Oliveira Benita

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“Atualmente, não estou trabalhando com essa coleção, mas já o fiz com outros livros de Mário Schmidt. Acho-os muito bons e faço questão de tê-los em casa e utilizá-los sempre que preciso. Certamente, a decisão de retirá-los do PNLD foi tomada sem que se tenha feito uma análise da obra. É mais uma prova de que somos governados pelos interesses dos poderosos.”

Sônia A. Duarte

Um comentário:

  1. Bom, pretendo me graduar em História e com certeza fazer o possível para que seja adotado a coleção do Mário Smith. Tenho a coleção do Fundamental II e é maravilhosa, interativa, rica em informações, e posso dizer, como boa adoradora de história que sou que este didático é o melhor que conheço na área.
    Parabéns, Max!

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