sábado, 24 de dezembro de 2011

Um miniconto de Natal

Depois de anos reproduzindo aqui a minha crônica "Quando teremos um ano novo de verdade?" e o conto "A árvore de Natal na casa de Cristo", de Fiódor Dostoiévski, resolvi tentar algo diferente neste ano. Espero que perdoem a pretensão e reconheçam no gesto a melhor das intenções: o miniconto que compartilho abaixo é, para todos que eventualmente leem este blog, o meu presente de Natal.


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Controlando a maluquez

Mais um Natal chegava. Natal, aniversário, Dia das Crianças, tanto fazia, B.M. gostava era de ganhar presentes. Gostava ainda mais quando eram brinquedos. B.M. gostava mesmo era de brincar.

E o brinquedo podia ser qual fosse, B.M. brincava com tudo da mesma forma que brincava com nada: usando a imaginação. Se tinha apenas um boneco, a cabeça encarregava-se de imaginar mais um punhado deles. Se o que tinha à mão era um carrinho, não demorava então a metê-lo numa sinuosa e cheia pista de mentira. No fim das contas, os brinquedos sempre se perdiam por entre os dedos. E as brincadeiras tinham lugar lá dentro de sua cabeça.

Com o passar do tempo, B.M. percebeu que o espaço para sua imaginação vinha sendo cada vez mais restringido. Ninguém tolerava mais que se recostasse sozinho a um canto para cuidar dos devaneios. Acontece que B.M. não suportaria viver neste mundo esquisito sem poder dar algumas escapulidas. Precisava agora procurar outra maneira de seguir em frente.

Foi assim que B.M. começou a ler os devaneios dos outros. E a escrever os seus próprios devaneios. Enfim, descobriu a literatura... B.M. ainda hoje gosta de ganhar presentes. Gosta mais quando são livros. B.M. gosta mesmo é de ler...

Texto publicado originalmente no jornal O KULA.