sábado, 24 de maio de 2008

Saudades, saudades...

Na última quinta-feira 22, fez um ano que minha avó Ana partiu. Abaixo está o soneto que fiz para ela na madrugada seguinte ao seu falecimento. Não é nada, se comparado ao que a senhora merecia, vó... mas foram palavras sinceras, ditadas pelo coração, e escritas por uma mão trêmula, porém decidida. Uma homenagem necessária. Um momento regado a lágrimas. Muitas lágrimas. Eu não ia contar pra ninguém, mas até o céu, sempre tão imponente, chorou. Um ano...
.
***
.
Estrela Aninha

Amanhã veremos o céu brilhar mais forte.
Lá, na constelação do bem, haverá uma nova estrela.
Chorar agora ofuscaria sua incipiente luz,
transformaria seus alegres raios em escuridão.

É preciso sorrir e trilhar o caminho iluminado por ela,
para um dia poder fazer-lhe companhia.
Pessoas sinceras, humildes, inocentes têm seu lugar reservado
...................................................................no céu.
Não se trata do paraíso, mas de um merecido aconchego.

A vida passa, é verdade.
Mas a senhora permanecerá em nossos corações, em nossas
......................................lembranças, em nossas vidas,
e continuará brilhando por toda a eternidade.

Amanhece chovendo.
Não chore, mundo... isso não a traria de volta nem a faria feliz.
Não chore, céu, pois a partir de agora ela lhe fará companhia.

domingo, 11 de maio de 2008

Era uma vez...

Ultimamente, tenho tido dificuldade para escrever algo objetivo. Faz bastante tempo que não escrevo um artigo, por exemplo. Sinto-me esgotado, acho que preciso de férias do trabalho e da faculdade. Tenho escrito quase todos os dias, por outro lado, textos subjetivos. Estou escrevendo (ou tentando escrever), inclusive, um conto sério, não muito grande, mas um pouco maior do que os textos que geralmente posto por aqui. Vamos ver no que vai dar. Para não deixar o blog às moscas, segue abaixo uma historinha fictícia, na qual qualquer semelhança pode ou não ser mera coincidência...

***

O rapaz doente

Era uma vez um rapaz doente, mas que parecia ser normal – o que dificultava o diagnóstico e agravava os sintomas. Ele era doente por dentro, cabeça e coração. Sua mente sofria alucinações, seus neurônios transitavam sobre nuvens de ilusão prontas a deixarem-no sem chão – ele acreditava em um mundo melhor. E seu coração maltratava-o, insistia em acreditar num grande amor, em buscar alguém que o completasse. O rapaz até chegou a pensar ter encontrado a mulher de sua vida. Acreditara também que poderia ser feliz para sempre ao lado dela, imagine. Porém aguardou, não queria se precipitar. Tinha vontade... vontade de abraços apertados e de beijos corpo, alma e mente. Hesitava, contudo. E não segurava sequer a mão da moça. Ele queria estar seguro de que estava fazendo tudo da forma certa. Falou e fez aquilo que achou ser o certo. Seguiu o coração. Mas quem foi que disse que o coração sabe o que é certo? E quem foi que disse que existe certo e errado? De qualquer modo, o rapaz vivia intensamente. Cada vírgula das frases da mulher de sua vida repercutia nele com força para além de qualquer escala. Seu coração deixara-o vulnerável, e ele passara a oscilar do contentamento à melancolia em segundos, várias vezes. Todos os dias. Sabia que havia encontrado alguém especial. Sentia. Não queria perdê-la, mas também não queria fazê-la sofrer. Estava disposto, por amor, a deixá-la viver longe dele, desde que ela assim desejasse com sinceridade. Sua doença já o castigava demais, não queria transmiti-la a ninguém. Ouvira dizer que isso era amor sem egoísmo, mas desconfiava intimamente tratar-se muito mais de uma mistura malfeita de amor, covardia e masoquismo. Era, no entanto, um sentimento verdadeiro. E dilacerava seu peito sem cessar, deixando-o quase sempre sem ar. E fazia dele um homem de verdade, que encara a vida com a cabeça erguida, com a consciência tranqüila. Às vezes sentia frio. Por dentro também. Comia, bebia, fumava. Para se aquecer. E esquecer. Amava ainda, mas já não tinha nada a dizer. Não mentiria. Não trairia a sua consciência assim como não trairia a confiança de uma pessoa amada. Já não tinha mais certeza a respeito do que sentia, talvez nunca a tivesse. E talvez fosse bem melhor assim. A sua doença? Pensava demais. E quem pensa demais não pode sentir-se seguro. A insegurança e a indecisão, em uma sociedade com valores pervertidos, eram para ele virtudes de uma digna existência. A indecisão da mulher amada a fazia ainda mais especial para o rapaz. No início, o amor o embriagara com certezas, e ele arrependia-se de não estar aproveitando aquele momento – ou estaria aproveitando, porém de modo diferente? Não sabia. Receava agora a chegada da sobriedade. Sempre tão insensível. Implacável. Inspirou, talvez ainda houvesse tempo. Suspirou, as coisas já não dependiam mais dele...

***

O texto foi originalmente escrito no dia 8/5. O rapaz me pediu para avisar a todos que, ao menos, ele já segurou a mão da
moça. Obrigado.