segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quando teremos um ano novo de verdade?

A crônica abaixo foi escrita na virada de 2007 para 2008. Começou a ser esboçada enquanto eu encarava a rodoviária do Jabaquara rumo ao Guarujá, onde passaria com familiares o réveillon. E foi terminada em janeiro, quando eu já estava novamente em São Paulo.

Na falta de algo novo para oferecer como voto de boas-festas, eu a reproduzo aqui, com ajustes, por se tratar de um texto que mantém a sua atualidade. Em março de 2008, eu a postei neste blog com o título "Será 2008 um ano novo de verdade?". Agora, creio que "Quando teremos um ano novo de verdade?" seja o título adequado, até porque, passados dois anos, de transformações profundas não vimos nem sombra.

O título em forma de interrogação não é à toa, é um convite a uma necessária reflexão. A minha resposta a ela é esta: espero tenhamos um ano novo de verdade logo, porque 2008 e 2009 deixaram muito a desejar. Somos capazes de muito mais. Com crises econômica, ambiental, energética, existencial etc., a construção de um outro mundo tem se mostrado não apenas possível como cada dia mais necessária. Mais e mais.


Quando teremos um ano novo de verdade?


Mais um fim de ano. Para mim, eles já somam 19. Dizem que agora tudo será melhor. Não acredito, tudo continua angustiantemente igual, ao passo que desalentadoramente diferente. Terminais rodoviários cheios e cabeças vazias. Como se o enorme barulho causado por conversa, criança ou pandeiro fosse capaz de nos preencher, de sufocar o silêncio constrangedor que insiste em nos lembrar, e sempre de modo inconveniente, de nossa impotência, nossos medos, nossos segredos, nossa imperfeição.

Celulares, milhões deles. Cada um com o seu, e todos melhores que o meu. Graças a Deus. Os aparelhos são trocados constantemente, assim como os amigos, os amores, o caráter. Viva a Era do Consumo Desenfreado. Agora a moda é ter celulares que tocam músicas em volume alto, para que todos possam ouvir – e quanto pior a música mais alto parece ser o volume do som. Onde foram parar os benditos fones de ouvido? As pessoas parecem não mais existir para si próprias, na verdade parecemos todos pobres coitados nos sacrificando para chamar a atenção dos demais. Todos. Capazes do mais deprimente e desesperado uivo em busca de olhares de admiração (profundamente gratos e aliviados, no entanto, diante de qualquer reação que ultrapasse o simples e inaceitável “pouco caso”). E como me incomoda ser obrigado a compartilhar dos barulhos dos outros. Não suporto nem sequer os meus próprios. Apareço, logo existo. Por quê?

Chegamos ao litoral sem notar o trabalho do motorista do ônibus, do vendedor de passagens, da atendente da lanchonete. Mas chegamos aonde queremos alegres e felizes, e em grande medida por causa deles. Eles não chegam aonde querem, não passam o Ano-Novo com as pessoas que amam. Nossa culpa?

Chega a hora. A mais esperada e curiosa de todas. À caminho da praia, mãos carregam garrafas cheias de champanhe. As mesmas mãos humanas, um pouco mais marcadas pelo trabalho forçado de uma vida precária, carregam sacos igualmente cheios. Sacos cheios de latas vazias. E cheios de sofrimento também. E talvez muito mais cheios de dignidade e esperança do que nós e nossas existências vazias vestidas de branco e preenchidas de champanhe. (Digo “nossas” pois também participo do ritual e carrego a minha garrafa, e não sei dizer exatamente se sinto mais prazer ou culpa por isso.)

Sorrisos branquíssimos porém falsos, narizes empinados, e a atenção toda voltada para o céu. É sempre assim, todos de olho no Céu, enquanto a miséria notória ao redor é ignorada, enquanto pessoas são pisadas aqui nesta Terra. Shows pirotécnicos iluminam o céu do presente. E nublam o céu do futuro. Mas para que se preocupar? É Ano-Novo, minha gente. E, no próximo ano, tudo será diferente. A preocupação com o meio ambiente só cai bem em determinados momentos, deixemos nossa responsabilidade ambiental guardada junto aos moletons e casacos de lã. Afinal, não sejamos radicais. Saibamos buscar o equilíbrio e a tolerância. É preciso aceitar um pouquinho de corrupção e hipocrisia de vez em quando. Tudo faz bem na medida certa, apenas o que é demais faz mal. Sinceridade demais, então, nem se fala, não é mesmo? Ah, como me custa essa lição... receio ainda ter um longo caminho a percorrer até realmente aprendê-la. E talvez nunca a aprenda de verdade.

Os fogos estouram e eu, máquina com defeito, compreendo meus semelhantes cada vez menos, o que me traz a dúvida perigosa de que talvez não sejamos tão semelhantes assim. Penso em como as futuras gerações vão nos ver como imbecis. Assim como nós rimos dos mais curiosos rituais do passado – ou seja, dos que destoam do nosso pretenso mundinho avançado e civilizado –, elas vão gargalhar de nós e de nossos ritos inexplicáveis. Pelo bem deles, espero que pensem assim e que riam até doer a barriga. E que barrigas absolutamente só doam por causa disso. Que sirvamos ao menos de exemplo do que não deve ser feito.

Enquanto isso, bebo o meu champanhe pela boca e pelo nariz. Bebo tudo rapidamente para me livrar o quanto antes desse símbolo de que pertenço ao lado nobre da festa. Acabo com a garrafa que me separa dos meus iguais. E, assim, consigo esquecer toda a chatice que eu mesmo escrevi acima. Abraço a todos. Desejo feliz Ano-Novo até a quem não conheço. A quem gosto e a quem não gosto. E a quem não gosto nem desgosto. E, a cada gole de álcool, pareço mais perto das pessoas ao meu redor. E muito, muito mais longe do que Deus e eu esperamos desta espécie, que surpreendentemente sobrevive mesmo perseguindo com todas as suas forças a extinção.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Classe média ou classe medíocre?


Na edição 572, de três semanas atrás (capa ao lado), a revista CartaCapital trouxe em sua páginas uma matéria sobre o imperdível blog The Classe Média Way of Life (que passo a listar na minha barra de sites recomendados).

Com ilustrações do camarada Maringoni (que, segundo o próprio autor do blog, captou o espírito de seus escritos) e texto complementar do Mino Carta (sempre melhor quando não está a tratar do caso Battisti), a matéria se torna uma saborosa degustação do que se pode, com fartura, encontrar no blog: um humor de aguçado vigor crítico, absolutamente sarcástico (e, como todo bom sarcasmo, é de uma sutileza incrível, capaz de deixar de boca aberta, sem entenderem nada, os representantes da classe média brasileira, explorada aspirante a exploradora).



E vejam como são previsíveis os "médio-classistas". Duas semanas depois, a revista (?) Veja traz como matéria de capa o que, segundo o blog acima citado, representa um "deleite sem limites para a classe média". Revistinha elitista, supérflua e mentirosa + defesa das obras de "autoajuda" = "orgamos múltiplos espontâneos nas salas de estar dos apartamentos e nas esperas dos consultórios odontológicos Brasil afora".

Segundo a Veja, é na autoajuda que "milhões de brasileiros encontram [...] soluções reais para seus problemas". Não é verdade. Os "ajudados" existem, sim, mas não são milhões. Formam, ao contrário, um clube seleto, composto dos que escrevem, publicam e/ou vendem esses livros, bem como daqueles que se utilizam dessa anestesia intelectual, que se contrapõe à reflexão crítica, para fortalecer a sua dominação.

Não digo mais nada, não quero estragar a surpresa. Acessem The Classe Média Way of Life, vocês não vão se arrepender.

domingo, 25 de outubro de 2009

Manifesto em defesa do MST

Não é de hoje que a mídia brasileira, aquela que defende os interesses espúrios do agronegócio como se fossem estes os interesses do conjunto da nação, estrebucha quando o MST faz o que quer que seja.

Portanto, não deveria me espantar a parcialidade com que o episódio da derrubada dos pés de laranja foi tratado. Interessante foi observar a cobertura da Folha de S.Paulo, que no domingo seguinte traçou um elogioso perfil de Eike Batista, homem mais rico do Brasil e notório investigado por fraudes em licitações públicas (o que talvez não seja mera coincidência).

Perplexo, perguntei aos meus igualmente perplexos botões: Até quando aqueles que defendem o patrimônio público destinado ao bem-estar coletivo vão ser tratados como bandidos? E até quando aqueles que enriquecem à custa do Estado e da apropriação privada dos bens públicos vão ser tratados como heróis?

Por todos que se importam mais com vidas humanas do que com pés de laranja plantados em terras sob suspeita de irregularidades, desejo que um dia se faça justiça neste país. E que nesse dia os cidadãos brasileiros saibam escolher de que lado estar. Enquanto esse dia não chega, compartilho o manifesto abaixo, uma necessária luz para iluminar este período de trevas em que parecemos estar mergulhados.




Contra a violência do agronegócio e a criminalização das lutas sociais

As grandes redes de televisão repetiram à exaustão, há algumas semanas, imagens da ocupação realizada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em terras que seriam de propriedade do Sucocítrico Cutrale, no interior de São Paulo. A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja como ato de vandalismo.

Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça. Trata-se de uma grande área chamada Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares. Desses 30 mil hectares, 10 mil são terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas e 15 mil são terras improdutivas. Ao mesmo tempo, não há nenhuma prova de que a suposta destruição de máquinas e equipamentos tenha sido obra dos sem-terra.

Na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários desejando produzir alimentos.

Bloquear a reforma agrária

Há um objetivo preciso nisso tudo: impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola – cuja versão em vigor tem como base o censo agropecuário de 1975 – e viabilizar uma CPI sobre o MST. Com tal postura, o foco do debate agrário desloca-se dos responsáveis pela desigualdade e concentração para criminalizar os que lutam pelo direito do povo. A revisão dos índices evidenciaria que, apesar de todo o avanço técnico, boa parte das grandes propriedades não é tão produtiva quanto seus donos alegam e estaria, assim, disponível para a reforma agrária.

Para mascarar tal fato, está em curso um grande operativo político das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST. Deste modo, prepara-se o terreno para mais uma ofensiva contra os direitos sociais da maioria da população brasileira.

O pesado operativo midiático-empresarial visa isolar e criminalizar o movimento social e enfraquecer suas bases de apoio. Sem resistências, as corporações agrícolas tentam bloquear, ainda mais severamente, a reforma agrária e impor um modelo agroexportador predatório em termos sociais e ambientais como única alternativa para a agropecuária brasileira.

Concentração fundiária

A concentração fundiária no Brasil aumentou nos últimos dez anos, conforme o Censo Agrário do IBGE. A área ocupada pelos estabelecimentos rurais maiores do que mil hectares concentra mais de 43% do espaço total, enquanto as propriedades com menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7%. As pequenas propriedades estão definhando enquanto crescem as fronteiras agrícolas do agronegócio.

Conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT, 2009) os conflitos agrários do primeiro semestre deste ano seguem marcando uma situação de extrema violência contra os trabalhadores rurais. Entre janeiro e julho de 2009 foram registrados 366 conflitos, que afetaram diretamente 193.174 pessoas, ocorrendo um assassinato a cada 30 conflitos no primeiro semestre de 2009. Ao todo, foram 12 assassinatos, 44 tentativas de homicídio, 22 ameaças de morte e 6 pessoas torturadas no primeiro semestre deste ano.

Não violência

A estratégia de luta do MST sempre se caracterizou pela não violência, ainda que em um ambiente de extrema agressividade por parte dos agentes do Estado e das milícias e jagunços a serviço das corporações e do latifúndio. As ocupações objetivam pressionar os governos a realizar a reforma agrária.

É preciso uma agricultura socialmente justa, ecológica, capaz de assegurar a soberania alimentar e baseada na livre cooperação de pequenos agricultores. Isso só será conquistado com movimentos sociais fortes, apoiados pela maioria da população brasileira.

Contra a criminalização das lutas sociais

Convocamos todos os movimentos e setores comprometidos com as lutas a se engajarem em um amplo movimento contra a criminalização das lutas sociais, realizando atos e manifestações políticas que demarquem o repúdio à criminalização do MST e de todas as lutas no Brasil.


Ana Clara Ribeiro
Ana Esther Ceceña
Boaventura de Sousa Santos
Carlos Nelson Coutinho
Carlos Walter Porto-Gonçalves
Claudia Santiago
Claudia Korol
Ciro Correia
Chico Alencar
Chico de Oliveira
Daniel Bensaïd
Demian Bezerra de Melo
Fernando Vieira Velloso
Eduardo Galeano
Eleuterio Prado
Emir Sader
Gaudêncio Frigotto
Gilberto Maringoni
Gilcilene Barão
Heloisa Fernandes
Isabel Monal
István Mészáros
Ivana Jinkings
José Paulo Netto
Lucia Maria Wanderley Neves
Luis Acosta
Marcelo Badaró Mattos
Marcelo Freixo
Maria Orlanda Pinassi
Marilda Iamamoto
Maurício Vieira Martins
Mauro Luis Iasi
Michael Lowy
Otilia Fiori Arantes
Paulo Arantes
Paulo Nakatani
Plínio de Arruda Sampaio
Reinaldo A. Carcanholo
Ricardo Antunes
Ricardo Gilberto Lyrio Teixeira
Roberto Leher
Sara Granemann
Sergio Romagnolo
Virgínia Fontes
Vito Giannotti

Para assinar você também, como eu já fiz, clique aqui.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Gramática: uma questão de reflexão

Li no jornal outro dia a expressão "contos de fadas", com a palavra "fada" no plural. Lembrei-me de um dos livros em cujo processo de edição estou trabalhando: Dragões de Éter - Corações de Neve, o segundo volume do que promete ser uma trilogia, embora eu faça votos de que vá muito além, pois se trata de uma obra interessante de um escritor promissor, o Raphael Draccon. Mas, enfim, não é esse o foco aqui.

A lembrança ocorreu devido ao fato de que o livro, que pode ser localizado no campo da literatura fantástica, traz em seu enredo fadas e alusões a contos de fada clássicos. "Peraí", o leitor mais atento questionaria, "contos de fada" ou "contos de fadas"? Na padronização que estou fazendo durante o que se pode considerar ser a revisão final, optei pela primeira opção. E explico o porquê. Vejamos.

Eu sabia, pela bagagem de leitura e pelo pouquinho de experiência na área que tenho, que o certo (ou, melhor, o mais adequado) seria usar a palavra "fada" no singular. Mas faltava o embasamento teórico, que busquei brevemente, porém sem ter muito êxito. Embasamento este que é, aliás, o mais importante em discussões gramaticais, pois nem tudo é consenso entre os estudiosos e muitas questões dependem do gramático que se escolhe como referência.

Pois bem, sem encontrar referência direta ao caso e precisando encontrar uma solução, decidi não ir "no automático" e resolvi refletir a respeito do imbróglio. Para a minha explicação, recorro a outra expressão que nos será, digamos, útil: "histórias em quadrinhos". "Agora complicou de vez", pensaria o perplexo leitor atento de que falei anteriormente. Muito pelo contrário.

Os contos de fada (ou "conto de fada", se estivermos falando de apenas uma história) são caracterizados por envolver o sobrenatural, encarnado pelo ser imaginário ao qual damos o nome de fada, um substantivo comum e portanto genérico para se referir a um ser qualquer dessa classe. Logo, creio que seja preferível usar o singular. Já em relação às histórias em quadrinhos, opto pelo plural pelo simples fato de as histótias serem constituídas cada uma por um conjunto de dois ou mais quadros (ou quadrinhos, para ser mais didático). Não há história em um único quadro, nesse caso talvez exista uma charge. Mas essa é outra história, tenha ela quantos quadrinhos for.

A gramática (entendida como conjunto de prescrições para o uso considerado correto da língua) é uma instituição social e não existe por si mesma, não é uma entidade natural nem muito menos imutável, é antes obra de homens inseridos em determinado contexto social, logo passível de falhas ou limitações como eles e o tempo em que vivem. E reflete em grande medida a interpretação e o gosto de quem a sistematiza.

Ao que se conclui que há sempre controvérsias, pois como sabemos a língua está viva por aí, em constante transformação, como estamos na realidade todos nós. E cabe a nós refletir sobre ela e perceber como a gramática pode nos ajudar. Afinal, já pensou se cada um escrevesse como bem entendesse, sem ao menos se justificar? Em breve nós seres humanos deixaríamos de nos entender, a nossa forma de nos comunicar passaria a fazer sentido apenas para nós mesmos, mas não para o próximo, o interlocutor... E pense também em como você pode ajudar a gramática. Ela está aí, para fazermos dela um instrumento efizaz a serviço de uma boa comunicação, mais eficiente à medida que se tornar também mais democrática.

domingo, 6 de setembro de 2009

As manifestações que você não vê no Jornal Nacional

Segue abaixo um vídeo curioso, de uma manifestação contra o golpe de Estado ocorrido em Honduras recentemente, por meio do qual foi deposto o presidente democrática e legitimamente eleito Manuel Zelaya. Que está longe de ser um revolucionário, mas que, para a mídia e os interesses econômicos por ela representados, é demasiado esquerdista. Essa coisa de tentar mudar as regras de um jogo injusto com a convocação de uma assembleia constituinte não agrada àqueles que vivem à custa da exploração dos outros.

Vejam, não é só de protestos contra Hugo Chávez que vive o mundo. Aliás, muito pelo contrário.



Que surjam muitos jovens como esse na América Latina. O povo não tem nada a perder, a não ser os grilhões que o prendem.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

II Congresso Nacional do PSOL: novos tempos para um pequeno grande partido

Reproduzo abaixo a minha contribuição ao debate sobre os rumos do PSOL, ecrito antes da realização do congresso, ocorrido no último fim de semana. Os resultados ainda precisam ser digeridos. Mas uma lição ficou: se a esquerda pretende mudar o país ou o mundo, em primeiro lugar precisa mudar algumas de suas próprias práticas. Não se constrói sociedade igualitária com complexo de superioridade nem muito menos com personalismo.




PSOL: entre a disputa política moralista e a programática

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) acaba de passar por um processo de congressos estaduais e chega agora ao seu II Congresso Nacional, a ser realizado na cidade de São Paulo nos dia 21, 22 e 23 de agosto. O que se pôde observar como divergência interna relevante até o momento foi uma diferença de análise da conjuntura e, consequentemente, das prioridades táticas e da estratégia do partido para intervir nas lutas cotidianas da população e nas eleições de 2010.

Há, por parte daqueles que defendem a preponderância da luta contra a corrupção, uma tendência a negar que exista essa polarização, colocando formalmente como eixo central a luta contra a crise econômica, mas agindo, na prática, de modo diferente. Alegam que a corrupção seria o elo frágil da cadeia, é um tema que “pega” junto ao povo, sendo capaz de ser ele o canal entre a insatisfação popular e o PSOL. Pode ser um dos canais, sem dúvida, mas há que se ter clareza sobre alguns aspectos, a começar pela ciência de que o socialismo não é uma condecoração de distinção moral ou uma criação metafísica a congregar os seres iluminados e de alguma forma superiores em seu entorno. Definitivamente, não.

É preciso entender também que o tema “pega” facilmente porque faz parte de um senso comum forjado em uma década de hegemonia neoliberal, em que o chamado “pensamento único” se impôs com força e que a única diferenciação política aparentemente possível, já que se proclamava o fim das ideologias, seria por meio da bandeira da ética na política. Bandeira esta que tem sido utilizada diligentemente pela mídia desde então para colocar todos no mesmo saco e semear o ceticismo em relação à participação político-partidária.

O Partido dos Trabalhadores (PT) assistiu ainda jovem à queda do Muro de Berlim e ao desnorteamento político que provocou o colapso do chamado “socialismo real”. O partido não resistiu à pressão e abandonou a disputa por um projeto alternativo para em seu lugar disputar a gerência do projeto dado. Passou, aos poucos, a abandonar seu plano estratégico, que atingiu a melhor formulação com o programa democrático-popular, para contentar-se com a disputa moral. Afinal, muitos foram convencidos de que o pensamento único era de fato único e que caberia aos petistas a luta pela gerência do sistema, a fim de torná-lo mais humano, o que é estruturalmente inviável.

A corrupção, entendida como apropriação de bens públicos ou de uma coletividade para uso privado ou corporativo, é inerente ao sistema capitalista, pois este tem como fundamento a busca pelo lucro. Como não há capitalismo sem lucro, e este é em última instância uma forma de corrupção aceita legalmente, não é possível criticá-la isoladamente. A corrupção é estrutural não só no Estado brasileiro mas em todo Estado capitalista. A luta contra a corrupção é tática para a denúncia do sistema vigente e gancho para proposições programáticas, que devem ser o eixo, ainda mais em um momento de crise. Um paralelo pode ser feito com a questão ambiental, que, caso não esteja vinculada à crítica ao capitalismo predatório, tende a ser uma pauta vazia ou possível de ser cooptada e ainda acabar servindo como marketing para as corporações.

A crise econômica que atravessamos, a maior desde a de 1929, é profunda e já ultrapassou os muros do cassino financeiro e chegou à economia real, causando desemprego e forçando o governo a reduzir verbas de políticas sociais para drená-las ao grande capital. É a socialização dos prejuízos em tempos de crise que se segue à privatização dos lucros em tempos de bonança. É certo que ela abre perspectivas de questionamento do regime vigente, mas é um engano crer que a crise é positiva para a esquerda e os socialistas. Não o é necessariamente, pois as mesmas chances que abre à radicalização da esquerda o faz também à direita. E, tendo em vista o atual despreparo e fragmentação da esquerda, é possível dizer que vivemos tempos perigosos. A ofensiva conservadora em defesa do capital está mais presente agora do que em tempos de estabilidade, embora cada vez mais sofisticada.

As oportunidades criadas tendem a ser aproveitadas pelos próprios defensores do capital, com o uso emprestado do ideário keynesiano, de modo provisório. É preciso entender esse tipo de intervenção como cooptação de uma doutrina econômica esgotada, como a outra face de uma mesma moeda neoliberal. Ela faz parte do ciclo dialético por meio do qual a economia capitalista se recicla. O keynesianismo como alternativa morreu, e os economistas que o defendem não são senão massa de manobra nas mãos daqueles que sairão da moita tão logo o Estado apague o incêndio provocado pela ganância capitalista – no caso, os neoliberais, ou qualquer outro nome que se venha a dar aos partidários da supremacia do mercado e da liberdade do capital.

É preciso travar a disputa programática e para este programa de ruptura disputar a consciência do povo, como um partido de massas e não vanguardista, ultrapassando a barreira do simples propagandismo e da denúncia ética para se tornar alternativa real de governo e assim avançar em uma disputa propositiva. O único formato existente hoje para a construção efetiva e conseqüente do socialismo é o de democracia popular, observadas as peculiaridades de cada tempo e de cada povo, que lute pelo fortalecimento do Estado, pela organização e mobilização popular e pela abertura e democratização das instituições, o que vem logrando êxito em países da América Latina, a exemplo de Venezuela, Bolívia e Equador.

Um partido que se proponha a ir além do que foi a experiência do PT não pode cometer os mesmo erros, ainda mais em conjuntura diferente e tão mais promissora. Para isso, é preciso fazer uma leitura correta e entender que o erro petista não foi a defesa de um programa democrático-popular para, com a combinação da disputa institucional e da mobilização popular, revolucionar o Brasil e construir o socialismo. Foi justamente o abandono deste e a capitulação à disputa política moralista. O PT no governo nos marcos da gestão burguesa do Estado é a prova de que, por mais boa vontade que porventura se possa ter, a voracidade do capital não perdoa. Ela arrasta uns e atropela outros, mas não deixa de executar seus objetivos.

Texto originalmente publicado no Correio da Cidadania, em 19 de agosto de 2009.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dívida pública faz a farra dos especuladores

Minha estreia na Caros Amigos... divido com vocês a alegria e também um trechinho da entrevista. Não vou reproduzir a íntegra pois a revista está nas bancas e eu espero que todos comprem, até porque tem muitas outras matérias legais, como a entrevista com a Marina Silva (a respeito da ofensiva do agronegócio sobre a Amazônia) e a com o Luiz Mott (sobre os assassinatos de homossexuais no Brasil). Sem contar os colunistas de sempre, em sua maioria lutadores comprometidos com a construção de um país mais justo, igualitário e fraterno. Uma publicação sem o rabo preso com ninguém -- ou talvez com ele preso apenas à consciência social, que não deixa nenhum dos colaboradores esquecer que ainda hoje, portanto século XXI, existem seres humanos passando fome ou trabalhando de modo análogo à escravidão. Isso é natural? Nós achamos que não. Isso é normal? Temos a certeza de que, ao menos, não deveria ser...



A Auditoria Cidadã mostra como funcionam os mecanismos que colocaram o Brasil e outros países da América Latina reféns do capital financeiro

Por Max Gimenes

Em entrevista exclusiva, a coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli, conta como foi sua participação, a convite do presidente Rafael Correa, na comissão oficial de auditoria da dívida do Equador, em 2008. Presidentes de outros países, como Bolívia, Venezuela e Paraguai, demonstram a intenção de seguir o exemplo equatoriano. Para Maria Lucia, é preciso que o Brasil cumpra a Constituição Federal, que prevê a auditoria, para que a sociedade pare de pagar a conta à custa da privação de direitos sociais elementares, conta esta que a atual crise tende a tornar ainda mais cara.

Max Gimenes - Como se sentiu ao participar da auditoria da dívida do Equador, enquanto o Brasil continua a pagar, todos os anos, milhões de reais como juros de sua dívida?

Maria Lucia Fattorelli - A realização da auditoria oficial da dívida pública equatoriana foi um dos principais fatos políticos da história da América Latina, pois significa um importante passo no sentido de nossa verdadeira independência e retomada de nossa soberania. Sem dúvida foi uma imensa honra ter sido designada pelo presidente Rafael Correa Delgado para a comissão da Auditoria da Dívida Equatoriana (CAIC), para realizar a auditoria integral de sua dívida pública interna e externa, visando à busca da verdade sobre o endividamento público. Esse trabalho representou um desafio imenso, pois o decreto presidencial determinou a realização de uma auditoria dos últimos 30 anos do processo de endividamento, envolvendo a investigação de aspectos financeiros, contábeis, jurídicos e também seus impactos sociais e ambientais. Considerando que teríamos apenas um ano para realizar essa tarefa, a comissão foi subdividida em subcomissões que se dedicaram especificamente a cada tipo de endividamento: multilateral (dívida externa contratada com FMI, Banco Mundial, Corporación Andina de Fomento e outros organismos multilaterais); bilateral (dívida entre o Equador e outros países ou bancos públicos de outros países); comercial (dívida contratada com bancos privados internacionais) e interna.

O que foi apontado pela auditoria?

O resultado de todas as subcomissões apontou impressionantes ilegalidades e ilegitimidades verificadas em processos que sempre beneficiaram o setor financeiro privado, as grandes corporações e empresas privadas, em detrimento do Estado equatoriano e de seu povo, carente de tantos serviços públicos e de condições de vida digna, apesar das riquezas nacionais, como o petróleo. A sangria provocada pela dívida não permitiu que esses recursos servissem ao povo equatoriano. Uma das constatações mais importantes da comissão foi a incrível semelhança do processo de endividamento equatoriano com o brasileiro e o dos demais países latino-americanos. No caso da dívida externa comercial - com bancos privados internacionais de cuja investigação participei, a dívida atual representada por títulos Bonos Global é resultado do endividamento agressivo iniciado no final da década de 1970, durante a ditadura militar, majorado pela influência da elevação unilateral das taxas de juros pelo Federal Reserve a partir de 1979, por onerosas renegociações ocorridas na década de 1980, quando o Estado equatoriano assumiu inclusive dívidas privadas; seguido de renúncia à prescrição dessa dívida em 1992 e sua transformação em títulos negociáveis, denominados Bonos Brady em 1995, emissões de Eurobonos e nova transformação em Bonos Global em 2000. A dívida externa comercial equatoriana atual é fruto de sucessivas conversões equivocadas de uma mesma dívida que foi crescendo em função da alta de juros internacionais, assunção de dívidas pelo Estado, por seu valor nominal integral, inclusive dívidas privadas, processo que no Equador se denominou “Sucretización”.

Qual a relação com a dívida brasileira?

O endividamento externo comercial do Brasil seguiu passos idênticos, verificando-se a coincidência de datas, nomes dos convênios e dos títulos da dívida, termos e condições estabelecidas nos diversos contratos, além de interferência expressa do FMI; enfim, quando analisava os documentos do endividamento equatoriano parecia que estava lendo os mesmos documentos aos quais já tivemos acesso no Brasil durante os trabalhos da Auditoria Cidadã da Dívida. Diante de tantas semelhanças, o ideal é que os demais países também realizem auditoria de suas dívidas públicas, pois o endividamento tem sido um mecanismo contínuo, utilizado para sugar nossas riquezas e travar o desenvolvimento do nosso continente. Várias iniciativas estão se conformando a partir do primeiro passo dado pelo presidente Rafael Correa: o Paraguai já está realizando uma investigação oficial sobre sua dívida externa, e na última reunião da ALBA (Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América), em novembro de 2008, Venezuela e Bolívia também anunciaram a intenção de fazer a auditoria integral de suas dívidas. O Brasil poderia estar em outro patamar de justiça social e desenvolvimento econômico se a auditoria da dívida prevista na Constituição Federal de 1988 tivesse sido realizada. É uma lástima que nenhum dos governos, nesses vinte anos, tenha respeitado esse preceito fundamental.

O que é e como funciona na prática a auditoria de uma dívida?

Auditoria da dívida, em resumo, significa a investigação de todos os processos de contratação, renegociação, troca e rolagem de dívida pública – interna ou externa. A auditoria se dá com base na análise de documentos oficiais (contratos, títulos e correspondências oficiais, por exemplo) e registros existentes em livros de escrituração contábil, além de dados estatísticos e outras publicações existentes. A auditoria da dívida envolve também a análise de cifras (valores contratados/pagos; comparações entre o valor renegociado e o valor de mercado, comissões diversas, taxas de juros), estudo e análise da legislação de regência e outras questões jurídicas aplicáveis e, adicionalmente, visa à identificação dos participantes nos diversos processos relevantes.

Para ler a entrevista completa e outras reportagens, confira a edição de julho da revista Caros Amigos, já nas bancas, ou click aqui e compre a versão digital da Caros Amigos.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ensino presencial, PM à distância!*

Assistam à barbárie. O responsável por isso quer ser presidente da república. E já foi, tempos atrás, líder no movimento estudantil. Do que mais ele é capaz? Creio que nem ele nem Deus saibam. É preciso ter cuidado.



*Título da postagem roubado do nick da amiga Ori no MSN. Não sei a quem devo dar o crédito, mas que fique aqui registrado que a espirituosa sacada não foi tida por mim.


O movimento estudantil da USP e a ofensiva conservadora

A conjuntura atual, não somente nacional como internacional, é marcada centralmente pela crise econômica deflagrada nos EUA no segundo semestre de 2008. Um cenário como este proporciona grandes perspectivas de movimentação. Muitas pessoas, que perdem seus empregos ou pioram de vida, passam a ver que não têm mais muito a perder e tendem a descer de cima do muro em busca de saídas políticas para sua insegurança econômica. Mas nisso reside um perigo, pois pessoas podem fazê-lo para qualquer um dos lados, esquerda e direita.

Adotemos aqui critérios de "esquerda" e "direita" amplos, não apenas ligados a partidos políticos que são, ou dizem ser, de um lado ou de outro. E ignoremos a definição de "centro", que nada mais é do que uma posição tática oportunista e cômoda de quem está de um dos lados, mas prefere fingir-se neutro ou travestir-se de moderado. Para "esquerda", pensemos nas forças progressistas, estendendo o rótulo a todos aqueles que não aceitam como naturais as desigualdades existentes na sociedade e buscam transformá-la a fim de promover justiça social. Para "direita", admitamos a classificação de quem busca a manutenção da ordem estabelecida, por achá-la natural ou cômoda, com suas injustiças e desigualdades, estendendo a classificação até mesmo àqueles que aceitam fazer concessões, como praticar algum tipo de filantropia vazia de vez em quando.

A crise econômica por que passamos é considerada por estudiosos diversos como a mais grave desde a de 1929. Esta, há 80 anos, gestou um sentimento de revolta que em muitos países, como Alemanha e Itália, cresceu e acabou por se tornar o monstro mais tarde batizado de nazi-fascismo. Nada impede que isso volte a acontecer, e uma análise mais atenta pode indicar que uma movimentação conservadora é algo mais real do que eventualmente possa parecer.

Peguemos o caso da Universidade de São Paulo (USP). Existem três eixos que, aprovados em assembléia de estudantes, vêm sendo trabalhados ao longo deste ano: "nenhum centavo a menos para a educação", "abaixo a Univesp" e "abaixo a repressão". Todos eles podem ser pensados como reação a ataques perpetrados pelo movimento conservador em curso. Quem tiver dúvidas que siga adiante com a leitura.

Cortar verbas destinadas à universidade pública atende aos interesses dos setores dominantes por diversos motivos. Vejamos: a precarização dela abre espaço para a indústria do ensino superior privado superá-la (como já acontece nos níveis fundamental e médio). E promove o estrangulamento financeiro de cursos como os proporcionados pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que, pelo caráter de reflexão crítica sobre a sociedade que eles têm, não interessam ao mercado, cujo interesse é o lucro e não a solução dos problemas das pessoas. Cursos que podem ser "lucrativos", no entanto, como os da Escola Politécnica, têm a oportunidade de fugir da asfixia pulando na canoa furada do financiamento privado. Retira-se a autonomia ou mina-se a qualidade, ou os dois, se pensarmos que qualidade implica autonomia. São enquadrados todos, de uma forma ou de outra, no que espera de nós o Deus Mercado.

Instituir a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) com o discurso de que ela expandirá as vagas da USP para alunos que antes ficavam de fora é uma estratégia enganadora, pois oculta que serão vagas sem qualidade. O ensino à distância pode até ter sua função como complemento à formação ou para casos específicos, mas o programa em questão é destinado à licenciatura em ciências. Como formar um professor que aprende a dar aulas sem as ter antes? É um contra-senso e empurra a educação brasileira para um círculo vicioso que pode levar à instituição dessa modalidade não-presencial em todos os níveis e cursos, com lições e leituras entrecortadas por bate-papos e visitas a sites de relacionamento. Sem falar que isso priva a formação docente da possibilidade de organização, discussão e construção coletiva do conhecimento. É a individualização imposta para conter a união que faz a força. Absurdo, mas útil ao governo do Estado, preocupado em melhorar estatísticas, aumentando o número de professores da rede estadual com diplomas pregados na parede como se isso por si só melhorasse o ensino precário oferecido por José Serra e sua turma.

A entrada da Polícia Militar no campus Butantã da USP encarrega-se de demonstrar a pertinência da luta contra a repressão. Há trinta anos, portanto desde a ditadura (dura, e não branda), isso não ocorria. Contudo, as elites, em especial por meio da chamada "grande mídia", ignoram a gravidade do fato. Defendem, contra os piquetes, o direito de ir e vir previsto na Constituição, como se as catracas que todos os dias condicionam esse direito dos cidadãos ao poder econômico de empresários do setor de transportes não existissem. É a velha história do "para os amigos tudo, para os inimigos a lei".

Quando se verificam as incansáveis tentativas de revisão da história do país, como a criação do neologismo "ditabranda" da Folha de S.Paulo, começa-se a entender melhor alguns porquês. Na ditadura, jornais do grupo Folha funcionavam como sustentáculo do regime. Agora, eles querem ao mesmo tempo limpar seu histórico e legitimar as forças de repressão à esquerda, forças estas que estão dispostos a usar, como têm demonstrado, para garantir uma saída à direita para a atual crise, com a manutenção da ordem e com a conta sendo paga por aqueles que trabalham, enquanto banqueiros e especuladores pegam o banquinho (gentilmente financiados pelo Estado) e saem de mansinho.

Mantém-se, assim, o país longe de experiências de esquerda como as da Venezuela, da Bolívia e do Equador. Durante o governo militar, guerrilheiro virava terrorista na versão da mídia. Hoje, favelado vira traficante, e militante de movimento social, baderneiro e vagabundo. É a imoralidade avançando para desmoralizar quem ainda preserva um pouco de integridade, mesmo que em meio à adversidade.

Outros exemplos poderiam ser citados para demonstrar a articulação das elites para impor o seu projeto de país, que transcende a universidade, como a perseguição ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a inversão de papéis no curso das investigações da Operação Satiagraha, a exposição dada pela mídia ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, espaço maior do que sua função permite e do que sua capacidade intelectual merece etc. etc. etc.

É por tudo isso que o movimento estudantil da USP não pode assistir passivamente a essa ofensiva. O momento exige um enfrentamento com todas as armas de que este dispõe, e ele não pode se dar ao luxo de desperdiçar nenhuma. A conjuntura mudou e uma greve agora não só é justa como também oportuna. Mais estudantes despertaram para a mobilização após a invasão do campus pela PM; o risco que uma greve precipitada representava, de alargar ainda mais o abismo que separa a massa de estudantes daqueles que participam do movimento estudantil, diminuiu. A necessidade, porém, de agir de modo conseqüente permanece. A falta de disputa ideológica nos cursos e o sectarismo podem jogar no colo do conservadorismo muitos estudantes menos envolvidos nos debates.

Para fazer o contraponto a esse movimento reacionário mais amplo, temos de aproximar estudantes diversos, acumular forças e construir a unidade da esquerda para uma greve na universidade que alcance o fim desejado, visto que ela é não um fim em si mesma, mas um meio para algo maior. A hegemonia da direita atrai para ela a mediocridade e força a esquerda a sofisticar sua atuação. Chegou a hora de unir todos aqueles que não desistiram de lutar por dias melhores, sem intrigas entre si. Nenhum centavo a menos para a educação. Abaixo a Univesp e a repressão. Paz entre nós e guerra aos senhores.

Artigo publicado originalmente no Correio da Cidadania, em 11 de junho de 2009.

Chávez e o significado de sua macarronada bolivariana

O ano de 2009 começou de modo atípico. Com o estouro da bolha imobiliária estadunidense no segundo semestre de 2008, deflagrou-se a crise financeira, que mais tarde atingiria também a economia real, sendo considerada a mais grave desde a que eclodiu em 1929. Todos os países, sem exceção, estão sujeitos a pagar caro durante pelo menos este ano e o próximo pela irresponsabilidade da desregulamentação e especulação financeiras. Presidentes buscam combater a crise, implementando medidas de seu ideário, para ao menos atenuar os efeitos dela junto a suas bases de sustentação política.

Na Venezuela, não seria diferente. Não é de hoje que Hugo Chávez afirma estar construindo em seu país o que chama de "socialismo do século XXI". A oposição, venezuelana ou não, nunca levou esse projeto muito a sério, acreditando na tese de que o atual período não passaria de uma aventura e que o país logo voltaria à normalidade. Ou seja, ao bom e velho neoliberalismo. A crise, no entanto, abalou tal vertente há muito dominante, a do famigerado "pensamento único". E, sem querer, abriu novas perspectivas para a esquerda em todo o mundo, a despeito do despreparo que esta tem demonstrado até o presente momento para aproveitar essas oportunidades.

Hugo Chávez, entretanto, foi perspicaz e começou o ano dando prosseguimento a uma agenda nacionalizante na Venezuela. O episódio mais recente foi a ocupação e o anúncio da expropriação da multinacional estadunidense produtora de macarrão Cargill, acusada de descumprir a cota de produção com preço tabelado. Os "especialistas" consultados, liberais nada moderados em sua maioria, atacaram a política chavista de aumento da presença estatal na economia. Eles ainda são do tempo em que a orientação usual apontava para o enxugamento do papel do Estado e para a liberdade total ao setor privado. Deu no que deu, mas a mídia canarinho pouco aprendeu.

O tabelamento de preços existe na Venezuela devido à sua inflação, de cerca de 30% em 2008, a maior da América Latina. A inflação, de modo breve, significa uma alta substancial e continuada no nível geral dos preços, concomitante com a queda do poder aquisitivo do dinheiro. Segundo a explicação liberal, num mercado em que há livre concorrência a inflação existe quando a procura supera a oferta. É a chamada inflação de demanda. Admitamos, a princípio, a validade do pressuposto, deixando momentaneamente de lado a existência dos monopólios.

Para combater a inflação, seria preciso intervir em um dos lados da balança, a fim de restabelecer o equilíbrio entre procura e oferta. Historicamente, governos alinhados ao ideário neoliberal buscaram conter a demanda, implementando a chamada política de metas de inflação, em que crescimento econômico, empregos e salários são sistematicamente sacrificados e reduzidos para domar a inflação dentro da cerca que circunda o centro da meta.

Uma alternativa a isso seria aumentar a oferta, com investimentos em infra-estrutura para a ampliação da chamada capacidade instalada. Assim, seria possível atender à demanda e ainda permitir a abertura de mais vagas de emprego, criando um círculo virtuoso de crescimento econômico capaz de permitir o combate à pobreza e a promoção de justiça social. Um governo socialista, ainda que sob o capitalismo, pode ser caracterizado justamente por esses objetivos: a construção de uma sociedade sem classes, em que não exista pobreza e desigualdade. Nela, os investimentos e a produção estariam a serviço do povo para atender a suas necessidades. Diferentemente do capitalismo, sistema em que os investimentos e a produção estão a serviço da busca pelo lucro, ainda que à custa de um enorme prejuízo social.

Se um governo promove melhoria nas condições de vida de sua população, principalmente nas daquela parcela com pior situação, a procura por produtos no mercado aumenta, notadamente por produtos de primeira necessidade, como comida. Porém, ao mesmo tempo em que a procura aumenta, a oferta estaciona. Os investimentos capitalistas, orientados pela busca de lucro e não pela satisfação das necessidades das pessoas, diminuem. A possibilidade de lucros exorbitantes é ameaçada, logo o capitalista não se arrisca a investir. É coerente que não o faça e esperar o contrário é por demais ingênuo. Sem contar, é claro, o boicote ou sabotagem promovido por uma parcela do empresariado que simplesmente não admite ver seus interesses serem contrariados.

Havíamos deixado de lado até aqui a questão do monopólio. Vamos a ela. Acontece que, no fim do século XIX, após um processo de concentração e centralização do capital, deu-se uma mudança importante no caráter do capitalismo, que passou da livre concorrência para o regime de monopólio, cujo objetivo não é apenas o lucro, mas o lucro máximo (uma vez que ele tem o poder de determinar o preço de mercado das mercadorias). Essa nova qualidade do sistema, que tende a acirrar suas contradições internas, desembocou na crise de 1929. E pariu o que hoje chamamos de capital financeiro (fusão do monopólio industrial e bancário, sob o controle deste último, segundo o economista Rudolf Hilferding), que se consagrou com a busca incessante por lucratividade a partir da década de 1970, passado o incêndio apagado pelo Estado. Daí por diante, deu-se o fenômeno da financeirização da economia.

Deduz-se do que foi apresentado até aqui que, para combater a inflação neste momento de crise e rumar ao socialismo, a Venezuela não tem outra saída a não ser a de estatizar ao menos os setores estratégicos de sua economia no curto e médio prazos. Apesar de todo o ataque da mídia, as nacionalizações de Hugo Chávez são absolutamente coerentes e mostram a sua real disposição de cumprir as promessas que fez, concordemos com elas ou não, situação com a qual brasileiros certamente não estão acostumados. É também oportuno lembrar que o tal capital financeiro incorporou meios de comunicação. Ou seja, a imprensa que brada contra nacionalizações não o faz senão para salvaguardar seus próprios interesses, travestindo-os de interesses do conjunto da sociedade.

Tratar uma questão tão séria com zombarias como a presente na expressão "macarronada bolivariana", termo cunhado em matéria do jornal Folha de S. Paulo (o mesmo que criou a "ditabranda"), não contribui para o debate. O tempo de caça aos comunistas acabou, mas isso não significa que o sonho marxista tenha seguido o mesmo destino. A questão, fosse levada a sério, teria de ser tratada de modo mais claro e objetivo. Estatização não é fim, é meio. Para quê? Para assegurar, no caso, cimento a quem quer construir seu teto e alimentos a quem deseja saciar sua fome. E tudo isso a preços justos. É democratização, e não o contrário, como insinuam alguns pretensos paladinos das liberdades individuais.

A acepção de "macarronada bolivariana", portanto, pode ser entendida unicamente como aquela que chega ao prato de todos, sem distinção de classe, cor, orientação sexual etc. Terrível assim. Ainda que tentem embaralhar os papéis e torcer a realidade para que o exemplo não seja seguido, não podem frear as transformações que de fato vêm ocorrendo em nosso continente, cansado de promessas vãs que não enchem barriga.

Artigo publicado originalmente no Correio da Cidadania, em 27 de maio de 2009.

sábado, 23 de maio de 2009

Para entender o Abril Vermelho do MST


Eric Nepomuceno, um jabuti


Na noite do dia 29 de outubro do ano passado, em São Paulo, ocorreu a cerimônia de entrega das estatuetas da 50ª edição do Prêmio Jabuti, cujos vencedores já eram conhecidos desde o dia 23 do mês anterior. O concurso literário, um dos mais tradicionais e prestigiados do país, é organizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), entidade que reúne diversas empresas do setor livreiro nacional.

Desde 1958, quando o prêmio foi idealizado pelo então presidente da CBL, Edgar Cavalheiro, os primeiros colocados de cada categoria recebem prêmios em dinheiro. Já as estatuetas são estendidas também aos segundos e terceiros lugares. E, nesta edição de 2008, é justamente um livro detentor de uma segunda colocação – na categoria de livro de reportagem – que merece nota, seja pela relevância do tema ou pela maestria com que foi escrito. Ou ainda pelo desejo manifesto do autor de ver a justiça sendo feita neste país em que ele tanto demonstra acreditar.

Trata-se de O Massacre – Eldorado do Carajás: uma história de impunidade (Planeta, 2007), de Eric Nepomuceno, jornalista, escritor e tradutor respeitado por seu trabalho e pela coerência e retidão com que o desempenha. A obra, que conta com um belo projeto de miolo e de capa, traz fotos de Sebastião Salgado, fotógrafo mineiro reconhecido mundialmente por seu estilo singular de captar imagens e momentos, sem dúvida um dos mais respeitados repórteres fotográficos da atualidade, com atuação marcada principalmente por voltar suas lentes para a vida daqueles que vivem à margem da sociedade, dos excluídos em geral.

Ao avançar pelas primeiras páginas de O Massacre, o leitor logo percebe a profundidade do mergulho que está prestes a dar na história contemporânea do Brasil – e também que está diante de um iminente clássico desta. Ao longo das cinco décadas de premiação do Jabuti, criadores e criaturas entraram para a história literária brasileira, como Jorge Amado, premiado na categoria romance da primeira edição do concurso por Gabriela, Cravo e Canela. Eric Nepomuceno, a seu modo, arrisca-se certamente a trilhar caminho semelhante.

Uma vez iniciada a leitura, embarca-se em uma viagem no tempo de cerca de onze anos. Chega-se à tarde do dia 17 de abril de 1996. O leitor é também levado a viajar no espaço – sem sair do lugar, é claro – rumo à região Norte do Brasil. Mais precisamente, até a margem da rodovia PA-150, a escassos quilômetros de Eldorado do Carajás, no local conhecido como Curva do S. Lá, uma marcha pacífica organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com cerca de 2500 trabalhadores oriundos da ocupação da fazenda Macaxeira, rumava para Belém a fim de levar suas reivindicações ao governo estadual. No caminho, porém, decidiram bloquear a estrada como forma de protesto ante o descaso das autoridades em relação às suas reivindicações, que incluía comida e ônibus para que chegassem à capital paraense.

A estrada seria desobstruída com brutalidade: cerca de 150 policiais militares – armados inclusive com itens alheios ao seu arsenal, como foices e carabinas – promoveram uma verdadeira matança, abrindo fogo contra uma multidão indefesa, em que havia até mesmo mulheres e crianças. Do lado dos sem-terra, dezenove foram os mortos e 69, os feridos – dos quais três viriam a falecer posteriormente em decorrência de complicações causadas pelos tiros. Isso sem contar os traumas psicológicos e os fantasmas da lembrança, que assombram até hoje os dias e as noites de grande parte dos sobreviventes. Do lado policial, onze foi o número de feridos, mas, ao contrário da versão que as elites locais ensaiaram sustentar à época, não houve confronto. Eric é categórico: essa classificação é um atrevimento, o que houve de fato foi uma carnificina premeditada, em que praticamente todos os mortos o foram com os mais macabros requintes de crueldade.

Do poder público, não haveria nada a esperar. Este tinha lado na trincheira. Foi do então governador do Pará que partiu a ordem para a ação da polícia. Os grandes proprietários de terra tinham muita influência nas decisões políticas, e os seus interesses eram os que prevaleciam. A relação era mesmo promíscua: os fazendeiros eram acusados ainda de ter criado um fundo para auxiliar a PM no combate aos sem-terra. Ao final do festival de horrores, conta-se, deram até festa para comemorar o “sucesso” da operação – no caso, tirar a vida dos dirigentes do movimento. Infelizmente, os assassinos teriam mesmo muito a comemorar.

Após dois inquéritos – um militar e um civil – e julgamentos obscuros, somente duas pessoas seriam condenadas: um coronel da PM e seu subordinado de maior patente. Ambos ficaram nove meses recolhidos em estabelecimentos da polícia. Hoje, estão em liberdade. De resto, estão todos livres, leves e soltos. Daí ser o livro de Eric indispensável. Segundo o próprio, ele não tem a intenção de revelar informações bombásticas, mas de recordar um evento brutal e de soprar as brasas desse trágico momento, para que as lembranças não virem cinzas mortas.

Apesar de hoje o MST reconhecer ter errado em sua avaliação – segundo Nepomuceno, os dirigentes achavam que as matanças haviam sido suspensas e que havia espaço para radicalização –, é possível fazer um balanço equilibrado e ponderar que resultados foram obtidos com a marcha: se, por um lado, ficaram os traumas e as famílias dilaceradas, por outro, o governo federal do então presidente Fernando Henrique Cardoso foi levado a desocupar a Macaxeira, a instalar o assentamento e a mudar a sua política com relação à reforma agrária frente à pressão da opinião pública. O assentamento se estruturou, superou a agricultura de subsistência e é hoje referência na luta pela democratização da terra. Foi também do massacre que surgiu o chamado “Abril Vermelho”, jornada de ocupações promovida pelo MST no mês de abril para exaltar a resistência daqueles que perderam a vida lutando por dignidade. E, além disso, a partir de então o 17 de abril passou a ser o Dia mundial de Luta pela Terra.

Eric Nepomuceno levou cerca de três anos, do início de 2004 a junho de 2007, para nos presentear com essa bela obra. Consultou testemunhas, livros, processos, relatórios, boletins, inventários, dossiês, inquéritos, artigos, ensaios, jornais e revistas para reconstituir os fatos. Ele narra com altiva sensibilidade a peleja desses brasileiros desafortunados. Leva ao leitor o sofrimento e a angústia que seguramente imperaram na ocasião. Toca o coração daqueles brasileiros que têm respeito e amor pelo próximo. E toca também a mente daqueles que se recusam a achar aceitável que 1% da população concentre 46% das terras em suas mãos enquanto 10% não têm terra ou teto, segundo dados de 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentados no livro. A situação, alarmante, em pouco mudou até hoje.

Uma breve pesquisa a respeito do motivo da escolha do jabuti como símbolo do prêmio nos traz uma reflexão bastante interessante. O jabuti seria o animal, de acordo com o folclore brasileiro, que se distingue pela paciência e pela tenacidade com que vence os desafios e, por essa razão, fora escolhido para representar a atividade de escritores, editores, livreiros e gráficos. O jabuti aceitaria sempre os desafios em que a vitória, de antemão, parece sorrir ao adversário, ilusão que logo se desfaz, pois o vencedor é o perseverante e pachorrento personagem do nosso folclore. “Diante do desafio, ele parece sempre sustentado pela convicção íntima de que será o vitorioso, não importam os obstáculos”, diz o site da CBL. Eric Nepomuceno simboliza, com mais propriedade do que qualquer outro premiado, as qualidades de um jabuti. Hoje, o triunfo parece sorrir aos autores do massacre. Escrever um livro que vai contra a corrente do poder estabelecido parece tempo perdido, mas não para Eric, que carrega dentro de si uma chama de esperança na conquista de dias melhores. Chama um tanto pertinaz, diga-se. Para a sorte de todos nós.

Alguns podem pensar que a jornada terminou no dia 20 de abril, quando as vítimas foram enterradas. Porém as cicatrizes continuam abertas. A busca por justiça não é movida por rancor, vingança ou revanchismo; estes sentimentos espúrios são a marca dos algozes. Uma sobrevivente, a certa altura, diz a Eric: “Eu queria esquecer o massacre, mas não dá. Quando a gente anda na rua, encontra sempre uma viúva, um outro mutilado, um órfão...”. Eric Nepomuceno discorre sobre um tema de relevância e atualidade inquestionáveis, imprescindível para o entendimento da nação em que vivemos. Ele mereceu ser premiado, sem dúvida, mas a melhor recompensa e reconhecimento que poderia almejar é a justiça. O prêmio veio rápido, é verdade. A justiça, no entanto, ameaça vir a passos lentos, talvez mais vagarosos até que os de um jabuti.

Esta resenha foi publicada originalmente no Correio da Cidadania, em 18 de novembro de 2008.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Em tempos dramáticos, a validade do apelo melodramático



Baseado no livro homônimo de Bernhard Schlink, o filme O leitor tem em seu elenco a ganhadora do Oscar de melhor atriz de 2009, Kate Winslet, que interpreta uma humilde cobradora de bonde que acaba por envolver-se sexualmente com um jovem (Michael, interpretado por David Kross) cerca de 20 anos mais novo. A mistura de literatura e sexo torna o caso dos dois curioso, mais próximo da inocência que do vulgar. Até que Hanna, a cobradora, some de maneira enigmática.

O longa se passa na Alemanha dos anos 1950, após a derrocada nazista. E o nazismo não passa incólume. Após o sumiço de Hanna e o longo tempo que ela e Michael passam longe um do outro, os dois se encontram em um julgamento de crimes cometidos por nazistas. Ele como estudante de direito, ela como ré. A temática do nazismo parece esgotada, mas com O leitor percebemos que sempre há espaço para uma abordagem nova, diferente.

O inusitado é a superação da forma geralmente maniqueísta ou simplista por meio da qual o tema é tratado. Aqueles que julgam ser conhecedores da verdade absoluta e inquestionável terão motivos para entrar em crise com suas certezas. Um colega de curso de Michael considera criminosos todos que deixaram de se levantar de alguma forma contra as barbaridades empreendidas pelos nazistas. A tese parece válida... mas será mesmo?

O filme levanta uma série de questões interessantes para reflexão e uma delas é justamente deixar de lado preconceitos e buscar entender as motivações que levaram uma parcela da sociedade dos países dominados pelo nazi-fascismo a apoiá-lo, ainda que tacitamente. A sugestão de que o mundo, no período da Segunda Guerra, não se dividia entre pessoas boas, de um lado, e nazistas, de outro, soa algo óbvia.

Hanna é levada a julgamento e abdica de se defender, curiosamente, o que constitui o mistério a ser revelado pelo espectador. Suspense este intimamente ligado ao porquê de ela ter de certo modo participado do regime do Füher. Já repararam como a ignorância ajuda e eleger e a manter regimes e políticos da pior espécie no poder? Às vezes parece acaso; às vezes, não. E não se trata de absolver os crimes cometidos, mas de buscar compreendê-los.

A leitura, como mostra o filme, tem poder: liberta mentes, derruba barreiras, amplia horizontes e, assim, possibilita a construção do novo – como uma sociedade de homens e mulheres livres, por exemplo. Livres não por serem definidos assim no papel, numa lei ou algo do gênero. Livres por terem sido emancipados, por poderem pensar com suas próprias cabeças. Livres da manipulação do poder, seja ele político ou econômico. O acesso ao saber, nota-se, é o melhor que se pode fazer contra as tiranias e todo o mal que delas advém.

Alguns podem classificar O leitor como melodramático, e talvez o seja mesmo, mas esse ainda parece ser um valioso instrumento para abrir olhos, tocar corações e inquietar mentes em tempos de crise econômica e descrença política. Indicado para quem busca mais que entretenimento, para quem busca uma boa reflexão – e, sobretudo, forças para lutar por dias melhores.


(Texto publicado na edição de fevereiro de O Diplomático)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Por que Hugo Chávez ganhou?

(Por Emir Sader, sociólogo e professor da UERJ. Texto publicado originalmente na Agência Carta Maior. Muito bom. Pensei em escrever a respeito, mas como ando meio sem tempo por causa de outros projetos e como alguém já fez uma defesa bastante digna, tomei a liberdade de simplesmente reproduzir aqui um bom artigo, de um intelectual que sabe o que está falando... é necessário porque o que se escreve de besteiras sobre a Venezuela não é brincadeira...)

Uma vez mais, em dez anos, Hugo Chavez triunfou nas eleições internas. À exceção da consulta de reforma constitucional de dezembro de 2007, ele triunfou em todas as 14 eleições, presidenciais, de referendos do mandato presidencial e outras. Volta agora a triunfar.

A levar a sério as versões da grande maioria – a quase totalidade da mídia privada nacional e internacional – não se pode entender suas vitórias. Que aos 10 anos de mandato, sob efeito de uma brutal oposição da mídia monopolista privada, das entidades do grande empresariado, dos partidos tradicionais, entre outras entidades que fazem parte do bloco de direita, Hugo Chavez detenha um apoio popular majoritário, só poderia ser atribuído a algum tipo de fraude. No entanto a própria oposição reconheceu a normalidade das eleições e a vitória de Chavez.

A razão de fundo para o apoio de Chavez na massa majoritariamente pobre da população venezuelana é a mesma que explica o êxito de governantes que privilegiam políticas sociais em detrimento da ditadura da economia e do mercado, característica dos governos que os precederam. Num país petroleiro, é incrível a pobreza venezuelana, revelando como as elites desse país fizeram a farra do petróleo, enriquecendo-se elas e distribuindo parte da renda petroleira a outros setores, políticos e sociais – incluindo a antiga "esquerda" e grandes setores do movimento sindical – que participavam da corrupção estatal.

Essas mesmas elites não perdoam que Hugo Chavez lhes tenha arrebatado não apenas o governo e o Estado, mas a principal fonte de riquezas do país – a PDVSA. E que dedique cerca de um quarto dos recursos obtidos por essa empresa para políticas sociais – para resgatar direitos essenciais da massa pobre da população, vitima principal do enriquecimento das elites tradicionais. Além de se valer de parte desses recursos para políticas internacionais solidárias – inclusive com setores pobres dos EUA.

Os resultados são claros: a extrema pobreza foi reduzida de 17,1 a 7,9. Cresceu a taxa de escolaridade e de preescolaridade, que subiu de 40 a 60%. Terminou o analfabetismo, segundo a constatação da Unesco. A participação feminina subiu muito no Parlamento e quatro mulheres dirigem a Corte Suprema, a Procuradoria Geral, o Conselho Nacional Eleitoral e a Assembléia Nacional. A taxa de mortalidade infantil diminuiu de 27 por mil a praticamente a metade: 14 por mil. O acesso a água potável subiu de 80 a 92% da população. Diminuiu significativamente a desigualdade social, a Venezuela subiu bastante no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, aumentou a expectativa de vida, diminuiu o desemprego, aumentou o trabalho formal em relação ao precário, foram legalizados milhões de aposentados, o consumo de alimentos subiu 170%. Em suma, como em todos os governos que buscam reverter a herança neoliberal, se dá um imenso processo de afirmação dos direitos da grande maioria, refletido na sua promoção social e na expansão do mercado interno de consumo popular.

A ideologia bolivariana articula promoção dos direitos à soberania nacional, à solidariedade internacional e à construção de um tipo de sociedade fundada nas necessidades da população e não nos mecanismos de mercado – a que Chavez aponta como o socialismo do século XXI.

A nova vitória de Chávez tem nessas bases seu fundamento. À falência das corruptas elites tradicionais, a Venezuela passou a viver o maior processo de democratização social e política da sua história. Essa vitória permite e compromete o governo com o enfrentamento da grande quantidade de problemas pendentes e que responde, em parte pela derrota anterior do governo, em dezembro de 2007.

Entre eles, a adaptação do Estado às necessidades de gestão eficiente e transparente de suas políticas, o enfrentamento do tema da violência, o avanço na construção de estruturas de poder político popular de base e do partido, o desenvolvimento de políticas econômicas que permitam a edificação de estruturas econômicas menos dependentes do petróleo, de caráter industrial e tecnologicamente avançadas.

As derrotadas são as elites tradicionais, que controlam 80% da mídia privada do país, que promoveram o golpe militar contra Chavez, um lock-out e a fuga de capitais contra o país, que se articulam com o governo dos EUA contra as autoridades legitimamente eleitas e reconfirmadas pelo voto democrático do povo venezuelano. Chavez sai fortalecido da consulta, assim como a imensa massa pobre da população, que ingressa, através do processo bolivariano à historia política do país.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Promessa para 2009

Aos que dedicam o seu precioso tempo lendo o que aqui escrevo eu agradeço. Mas não só, eu também faço uma promessa: publicarei aqui semanalmente algum texto, ainda que não seja meu, mas com o qual eu concorde ou ache que mereça ser lido por algum motivo.

Continuem visitando este espaço. Ver que há leitores é, certamente, algo que me faz indescritivelmente feliz. E, em tempo (será?), feliz ano novo!

Beijos e abraços,
O blogueiro

Ofensiva israelense em Gaza

Paz sem voz é medo

Muita gente se pergunta por que há tanto tempo esse povo (entenda-se árabes e israelenses) brigam uns contra os outros. E esse é de fato um questionamento-chave, é o ponto de partida para que seja possível decifrar um conflito de raízes tão antigas e profundas.

Após duas semanas de conflito, que teve início em 27 de dezembro, contabiliza-se oficialmente 784 mortos do lado palestino, em sua grande maioria civis e incluindo na conta mulheres e crianças. Do lado israelense, as baixas somam 13. Sim, cerca de 60 vezes menos. Logo, é importante que chamemos desde o início o litígio de massacre, e não de “guerra”. Parece mais adequado ante a falta de paridade das forças e pelo fato de a incursão militar e os bombardeios serem praticados por apenas um dos lados.

Mas o Hamas não lança foguetes contra Israel? Não são terroristas malvados? Não se aproveitam dos civis inocentes utilizando-os como escudos para se defender dos ataques israelenses? Voltemos às raízes mencionadas no primeiro parágrafo.

É necessário entender o surgimento do Estado de Israel, ainda mais em tempos como o atual, em que jornalistas ignorantes ou mal-intencionados insistem em comparações esdrúxulas. Houve quem tentou usar exemplo com o Brasil no lugar de Israel e também quem pedisse para imaginarmos que Israel fosse a Argentina e Gaza, o Uruguai. Isso seria para facilitar a compreensão. Nada mais falso, as suposições citadas acima e veiculadas por grandes meios de comunicação só nos afastam de uma questão fundamental.

Na época dos regimes nazi-fascistas, houve o Holocausto – matança que deixou cerca de 6 milhões de judeus mortos. Porém, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a vitória dos aliados, as perseguições cessaram. Nesse cenário, ganhou força o Sionismo, movimento nacionalista judaico que defendia a criação de um Estado que abrigasse os judeus na região próxima de Sion, nos arredores de Jerusalém.

Em 1947, uma resolução da ONU determinou a criação do Estado de Israel na região onde hoje ele está localizado e que à época era ocupado por árabes. A área engloba Jerusalém, considerada santa para judeus e muçulmanos e que passaria à condição de objeto de disputas. A ONU também decidiu pela criação de um Estado Palestino, o que nunca ocorreu e o que nunca pareceu incomodar muito os governantes do Ocidente.

Da mesma forma que é justo pensar que os judeus de Israel já estão fartos com a histórica perseguição que seu povo sofreu, também é absolutamente compreensível que palestinos e árabes em geral tenham oferecido resistência ao reconhecimento do Estado israelense, criado na região por demanda externa (não havia uma movimento de judeus ali reivindicando um Estado) em uma conjuntura que precedeu a famigerada Guerra Fria, na qual Israel funcionaria como aliado importante do EUA. Quem lá vivia anteriormente foi desalojado. Após as ofensivas contra vizinhos, os israelenses ainda aumentaram o tamanho original de seu território, agravando a situação, o que precisa ser revertido para ser possível o início de uma negociação séria.

Para comparar usando a América Latina como exemplo, como querem certos articulistas da grande imprensa, seria mais fácil pensar em índios e portugueses. Que tal? A julgar pela ofensiva de Israel em Gaza, os objetivos se assemelham: subjugar e, na impossibilidade disso, dizimar o outro povo, chamado de “não-civilizado” para atenuar o peso de tantos cadáveres na consciência.

Certo, voltemos então ao Hamas. Esse agrupamento político-religioso ganhou a última eleição palestina. Portanto, trata-se de um governo eleito democraticamente e, como expressão do desejo do povo palestino, deve ser respeitado. As práticas do Hamas, se comparadas às dos governos estadunidense e israelense, tornam-se até angelicais. É mais lógico atribuir o rótulo de terrorista ao Partido Republicano dos EUA ou aos partidos da coalizão que governa Israel, sem dúvida alguma.

É possível paz com lançamento de foguetes pelo Hamas? Não. Mas o que causou essa reação? O controle da fronteira e o bloqueio à entrada de alimentos, remédios e energia em Gaza. Independentemente de qual das duas ações pareça mais assustadora, a segunda resulta em mais mortes e danos. Há relatos de palestinos mortos até de frio. O que evidencia que, ao contrário do que dizem alguns “analistas”, a trégua que vigorava até pouco tempo atrás não foi rompida pelo Hamas unilateralmente, ela já havia sido desrespeitada também por Israel.

Até o momento, escolas e a Universidade Islâmica de Gaza foram bombardeadas, o que é condenável até por leis de guerra. O governo de Israel quer destruir o Hamas, como se o partido laico – e absolutamente corrupto e ineficiente – Fatah fosse a solução. O fracasso dessa força moderada na busca por melhorar a condição palestina é justamente um dos motivos que levaram esse povo a radicalizar. Tentar combatê-los como tem sido feito leva a população civil da Palestina a se solidarizar com seus líderes e a protegê-los. Nada mais natural para um povo que está apostando suas últimas fichas.

E qual tem sido a reação pelo mundo afora? As notícias, apesar da proibição da imprensa em Gaza (atitude suspeita, não?), tem chegado aos quatro cantos do mundo. O presidente hiperativo da França, Nicholas Sarkozy, tentou articular com seu colega, o ditador líbio Muamar Kadafi, uma proposta de cessar-fogo. A dupla parece afinada, mas o projeto não emplacou.

Outro presidente a se destacar foi o impulsivo Hugo Chávez, que expulsou o embaixador de Israel e mais alguns membros da diplomacia israelense em represália à ofensiva sangrenta. Há quem veja exagero na atitude do mandatário venezuelano, mas exagerada é na verdade a passividade com a qual assistem ao massacre certos presidentes. Pressão diplomática como medida contra quase oito centenas de mortes (por enquanto) e contra crimes de guerra? Parece bastante razoável, e Chávez foi o único a fazê-lo, tornando-se sensação entre árabes e pacifistas. Boicote econômico seria outra arma com grande potencial.

Milhares de manifestantes também têm tomado as ruas das principais cidades ao redor do globo, inclusive do Brasil. Israel, com sua ação violenta, corre o rico de reavivar o anti-semitismo mundo afora. Combatem extremistas árabes utilizando como meio o extremismo à sua maneira. A intolerância é, sem dúvida, o principal obstáculo para a paz. Sem reconhecimento da legitimidade do Hamas, é improvável a aceitação por parte deste do Estado de Israel – que é uma realidade e cuja existência não pode ser ignorada.

O fato é que o atual governo de Israel, com o apoio dos EUA, quer enfraquecer os palestinos e torná-los perdedores conformados. Que pensem várias vezes antes de se levantarem contra o Império e seus representantes. Essa é a paz que atualmente busca Israel. Mas a isso se dá outro nome. Paz sem voz não é paz, é medo. E medo os palestinos não têm, irão certamente até o fim com a resistência. Até a última gota de sangue.

Este texto foi publicado originalmente no Correio da Cidadania e, posteriormente, em O Diplomático.
Disponível em:
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/2805/
e
http://odiplomatico.blogspot.com/2009/01/por-max-gimenes-muita-gente-se-pergunta.html

Vem aí um novo partido...

PPL: um novo partido de esquerda?

Reunido no último fim de semana no centro da cidade de São Paulo, o Comitê Central do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) deliberou a respeito do futuro da organização, que, após mais de 30 anos, enfim deixa o PMDB. Ao contrário do que se chegou a cogitar (suposição razoável, aliás, haja vista o exacerbado lulismo que ultimamente tem caracterizado o movimento), não houve proposta de entrada no PT, mas sim o encaminhamento para a busca das 500 mil assinaturas necessárias para a criação de um novo partido até junho de 2009, prazo para que este possa disputar eleições já em 2010.

Chamado Partido Pátria Livre (PPL), referência ao Hino da Independência, a agremiação seria uma forma, segundo seus idealizadores, de avançar na construção da uma frente nacional-desenvolvimentista, cujo líder é o presidente Lula e cujos partidos de sustentação seriam mesmo PT e PMDB, juntamente com o restante da base do governo federal. Criando uma nova legenda, o MR-8 pensa poder conseguir mais espaço e ter mais peso nas negociações políticas, em vez de se tornar mais uma corrente interna no PT.

Contra a entrada no Partido dos Trabalhadores pesa também a forma como este costumava se organizar. Uma das coisas mais importantes introduzidas pelo PT na política brasileira, a democracia interna e a participação ativa da base – embora essas coisas hoje não funcionem bem assim –, não são tão bem vistas pelo MR-8. Estes, de tradição stalinista, consideram essa estrutura, com livre organização interna em correntes e tendências, uma bagunça. Preferem um centralismo democrático em que a direção determina a linha e a base a segue à risca.

Em seu manifesto de lançamento, datado do dia 7 de dezembro, o pretenso partido reafirma seu compromisso com a visão etapista de revolução, apontando ser necessária a aliança com a burguesia nacional não-monopolista para promover a libertação nacional e derrotar os monopólios internacionais. E, assim, ajudar a jogar terra na cova onde se meteram o imperialismo estadunidense e a ideologia neoliberal por ele sustentada.

O PPL surge, sempre de acordo com o seu manifesto de lançamento (intitulado “Carta ao povo brasileiro”, pasmem), como um partido “de esquerda”. Não faltou, é claro, uma alfinetada, ainda que sem referência nominal, naqueles que fazem oposição de esquerda ao governo Lula: PSOL, PSTU e PCB. Há as seguintes colocações: “fora dela [a tal frente] o que existe é o retrocesso” e “os setores que se pretendem à esquerda do governo Lula [têm sido levados] ao vexatório papel de linha auxiliar das viúvas do neoliberalismo encasteladas no PSDB e no DEM”, estes últimos efetivamente citados.

Em um dos cinco princípios que servirão de alicerce para a futura sigla, há o compromisso com um “horizonte socialista”. Se depender do pragmatismo do MR-8, é possível que não haja ser humano para contar história quando chegar tal momento, pois o capitalismo atualmente nos arrasta ao precipício. Para aqueles que imaginam que os “revolucionários” do MR-8 estão rompendo brigados com o partido ao qual ainda pertencem, esqueçam. Sem radicalismos, companheirada. O manifesto é encerrado com um parágrafo que faz média com o PMDB, aquele de José Sarney, Renan Calheiros, Orestes Quércia, entre outras tantas figuras bastante conhecidas pelos brasileiros. Para o MR-8, foi uma “honra” permanecer por lá durante todo esse tempo.

Em recente debate sobre a crise financeira global e também em sua coluna no jornal “Folha de S.Paulo”, Cesar Benjamin – editor da Editora Contraponto e, por acaso, ex-militante do MR-8 – afirmou que as turbulências na economia mundial poderão ter sérios impactos no Brasil. O que pode trazer conseqüências para o jogo político-partidário brasileiro que hoje parecem inimagináveis, como uma aliança entre PT e PSDB, por exemplo, em defesa dos interesses nacionais (o que contaria com o apoio entusiasmado do tal PPL, nacionalista acima de tudo).

A criação desse novo partido, ainda que seja algo de certa forma pouco relevante e que talvez nem sequer se concretize, sinaliza que há mesmo espaço para movimentações e rearranjos. O que está por vir não sabemos, mas as surpresas já começam a aparecer.

Texto publicado originalmente no Correio da Cidadania, em 12 de dezembro de 2008. Disponível em: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/2696/9/