quinta-feira, 21 de abril de 2011

A imortalidade do bom poeta

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho (1886-1968), o nosso Manuel Bandeira, teria feito 125 anos ontem, 19 de abril, caso estivesse vivo. Mas quem foi que disse que não está? Admitindo-se a imortalidade que a boa poesia pode proporcionar a seu autor, não há porque não celebrar o aniversário de Bandeira, até porque corre-se sempre o risco de que mais cento e tantos anos se passem sem que se verse com semelhante intensidade e contundência. Abaixo transcrevo (do "Testamento de Pasárgada", organizado por Ivan Junqueira) o meu poema favorito, aquele que eu invejo, aquele que eu gostaria de ter escrito, entre todos os existentes, caso fosse possível tal escolha.


Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

-- Eu faço versos como quem morre.

(Teresópolis, 1912, "As cinzas das horas")

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