Recentemente, encontrei com meu primo Douglas, um pouco mais velho e um tanto distante (mora em Indaiatuba, interior de São Paulo). Enfim, nunca fomos de conversar muito, mas nesse último encontro as coisas mudaram um pouco. Conhecido na família por minha militância política, costumo ser convidado a opinar a respeito de alguns assuntos. (Às vezes sou chamado simplesmente para ouvir desbafos, tudo bem, não importa, me sinto contente do mesmo jeito.) O que importa nesse caso é que conversamos brevemente sobre educação - mais precisamente sobre a visão da revista (revista?) "Veja" sobre o assunto.
O resultado desse bate-papo foi a volta à ativa deste humilde articulista às páginas do portal de mídia alternativa Correio da Cidadania. Aliás, escrever para lá é uma das coisas que mais me fazem feliz. Douglas, obrigado. "Correio", obrigado. E (por que não?) "Veja", obrigado. A revolta que sinto pelos absurdos publicados por vocês são um excelente combustível para mim, faz com que eu escreva com vontade e determinação.
Eis o link:
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A educação de "Veja": o Brasil de resignados que não queremos ser
Em recente encontro com um parente atualmente um pouco distante, surgiu uma conversa sobre educação que me trouxe uma salutar reflexão. O querido primo, leitor de "Veja", defendeu a concepção da revista sobre o tema, cuja última exposição foi feita na edição de 3/9/08 por Gustavo Ioschpe, economista supostamente especialista em educação e um dos arautos da direita raivosa que, embora caricata, representa um enorme perigo pelo esforço incansável de sempre para transformar mentiras em verdades e para vender gatos como se velozes lebres fossem (com certeza, aulas com Goebbels, ministro da propaganda de Adolf, ele mesmo, o Hitler).
Nos textos de "Veja", que não é imparcial como se auto-declara – isenção, aliás, inexistente em tudo que sai de um ser humano dotado de experiências e valores –, não há sequer responsabilidade, que é o mínimo que se espera não só de um jornalista como também de todos os outros profissionais deste mundo. Seria passível de respeito a teoria defendida pelo periódico caso não fosse manifesta a sua falta de interesse por um país melhor (entenda-se melhor para a maioria). O tal Brasil que eles querem que sejamos é ainda pior do que esse em que já vivemos. Ainda mais injusto e desigual. Para eles, afinal, a desigualdade se resume à excessiva capacidade de alguns ante a incompetência da grande maioria. Tal raciocínio, ao contrário do que possa parecer, é mais fruto de má-fé que de ignorância. Vejamos.
"Veja" utiliza uma premissa válida para chegar a uma conclusão – premeditada – absolutamente equivocada e ameaçadora à educação brasileira. É preciso, segundo a revista e aqueles que lá manifestam o seu ódio à fraternidade e à solidariedade, que a educação seja eficiente e ofereça resultados. Como todos os seres humanos dotados de ao menos dois neurônios, concordo. E é daí que se chega a uma conclusão surpreendentemente mágica: para que se alcancem bons resultados, basta que as escolas sejam administradas como empresas privadas. Respiremos fundo.
A educação deve, sim, funcionar com o objetivo de oferecer bons resultados. Mas o questionamento que deve ser trazido para reflexão – atitude pouco incentivada por "Veja" – é o seguinte: que resultados as instituições de ensino devem proporcionar? Eis o ponto: as escolas não podem ser administradas como se fossem empresas privadas, pois os resultados buscados nestas são os lucros de uns poucos à custa do trabalho de tantos outros. Uma educação de qualidade deve objetivar a construção de uma sociedade justa e harmoniosa, onde exatamente não funcione a lógica capitalista de competição predatória e concentração de privilégios nas mãos de uma pequena elite, não raro ignorante, egoísta e perceptivelmente não merecedora da posição que ocupa, ela mesma prova incontestável da farsa da chamada "meritocracia".
Professores, os profissionais mais importantes para que os resultados acima sejam atingidos, não podem ter seus empregos, salários e motivação submetidos ao que o "deus mercado", seguindo leis ininteligíveis, queira oferecer. É preciso, antes de tudo, que eles sejam valorizados. Ao contrário do que faz a revista, que os ataca, ofende ou menospreza. E as determinações do mercado nem sempre são as melhores para a sustentabilidade do planeta e para o equilíbrio da vida em sociedade. O meio ambiente que o diga.
Um programa educacional decente deve buscar a democratização absoluta do conhecimento e do acesso à cultura, para a formação de cidadãos conscientes e críticos, capazes de utilizar o saber para a transformação da realidade que os cerca. Assim nos ensinou o revolucionário pedagogo Paulo Freire, o educador brasileiro mais conhecido e respeitado no mundo – desdenhado, é claro, pelo panfleto travestido de revista. Esse tipo de eficiência e resultado não pode ser mensurado em balanços, provas de múltipla escolha ou outros documentos estritamente técnicos. É uma questão sobretudo humana, que até algumas nações capitalistas parecem perceber.
Não é à toa que a educação de países tidos como exemplares seja encarada como serviço público. Sem lógica empresarial, mas como investimento social. Não é por acaso também que a educação aqui seja uma vergonhosa calamidade. São os ignorantes e alienados formados por nossas escolas que sustentam no poder quem rouba (mas diz que faz) e quem promete mundos e fundos, mas não faz nada além do que sempre foi, ou deixou de ser, feito.
Educação não é e não pode ser, em hipótese alguma, tratada como mercadoria. Ela é um instrumento de libertação, é emancipação. Como tal – e somente como tal –, ela pode ser capaz de nos garantir a perspectiva de um futuro digno da capacidade inesgotável do ser humano, que vai muito além da aptidão de alguns para falar abobrinhas.
Bem eu sou o primeiro ... hehehe
ResponderExcluirConcordo plenamente com o que foi escrito brilhantemente pelo amigo,
e digo que, termos que ter muita força e coragem para enfrentar um pais que a maioria dos pobres e oprimidos são de direita ...(aonde pode isso???)
Bem até mais entao ...
Você é o típico imbecil que atrasa esse país de merda. Desculpe-me a sinceridade.
ResponderExcluirMax querido,
ResponderExcluirSó agora, e por acaso, descubro que o senhor tem um blog, e escreve para o Correio da Cidadania... Fiquei feliz de encontrar mais um militante no mundo da blogosfera. Abaixo deixo o meu blog para você dar uma olhadinha e irmos trocando figurinhas.
Quanto ao seu artigo de hoje... Não preciso falar que o tema é super pertinente, e acho que o seu texto está muito bacana. E o fato de você estar publicando e algo que causa uma invejinha boa...rs...
beijos
Aninha
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu poderia excluir o comentário anônimo acima, mas é bom deixá-lo aqui para lembrarmos sempre que a construção de um mundo melhor parece consenso entre todos, mas no fundo não é bem assim. Existem pessoas más ou simplesmente ignorantes, não me cabe julgar esse caso agora, que desprezam a solidariedade e a fraternidade.
ResponderExcluirJuro que não fui eu quem escreveu a ofensa acima. Tenho mais o que fazer. Desconfio de quem seja, mas deixemos para lá.
A luta continua. E a esperança, meu caro anônimo, é a última que morre.
Primeiramente, afundado em seu mundinho capitalista que o cega e certo de que sua declaração foi extremamente elitista(partindo do ponto em que não concorda com o livre conhecimento defendido no post)nem ao menos tem a coragem de expor seu seu nome no comentário ofendendo o autor do post, e como ele próprio diz desculpe a sinceridade.
ResponderExcluirNão tenho duvidas ao falar que é por causa de pessoas assim que não só país mas como o mundo não vai para frente. Pessoas que se escondem e se omitem perante a desigualdade que impera no mundo, pessoas que se rendem a essa sociedade de consumo, pessoas que ajudam a manter essa educação pífia que é a pública que só tem como função produzir mão de obra barata e ignorante, para sustentar os prazeres de uma burguesia futil. Desculpe a sinceridade
Claro não posso deixar de comentar sobre a veja que reinstala a caça as bruxas, e que em uma de suas fantasticas reportagens diz que os professores que estimulam o senso crítico são formadores de socialistas.
Belo post