sábado, 19 de março de 2011

Texto sobre o Equador na Caros Amigos deste mês

Na edição de março da revista "Caros Amigos", além das reportagens, colunas e entrevistas legais de sempre, há uma matéria que escrevi sobre o Equador, país em que estive no ano passado e sobre o qual venho pesquisando ultimamente.

Abaixo, para que fiquem com água na boca, reproduzo o trecho publicado no site da revista (www.carosamigos.terra.com.br). Espero que tenham curiosidade de conferir a íntegra do texto, disponível na edição impressa que já está nas bancas.




Revolução Cidadã em marcha no Equador

A tentativa frustrada de golpe de Estado, há seis meses, não desgastou o governo de Rafael Correa nem contribuiu para a oposição acumular forças


Ao dar o nó na discreta gravata azul-clara que vestiu na manhã ensolarada da quinta-feira 30 de setembro de 2010, o presidente equatoriano, Rafael Correa, provavelmente não imaginava o que aquele dia lhe reservava: o momento mais tenso desde sua primeira posse, em janeiro de 2007. O dia em que a continuidade tanto de seu mandato como de sua vida foram seriamente colocadas em xeque.

No Equador, a instabilidade é velha conhecida: os três presidentes eleitos que precederam Correa foram depostos antes do término do mandato e só no século passado vigoraram sete Constituições diferentes. Por isso, há quem diga, como o Centro Andino de Estudos Estratégicos (CENAE), que a cultura política do país reza, para a resolução de problemas, pela busca do centro da tomada de decisões, no caso, a própria presidência. “Atores relevantes” não aceitariam os “canais institucionais”.

Talvez por isso Correa tenha sido levado, naquela manhã, a discursar a um grupo de policiais sublevados contrários à Lei Orgânica do Serviço Público implementada por seu governo. Frente à impassibilidade dos manifestantes, o presidente afrouxou o nó que dera para prender a gravata, enquanto bradava: “Se querem matar o presidente, aqui está, matem-me”. Depois de afirmar que não daria “nenhum passo atrás”, deixou o palanque improvisado, e não tardaria até ter lugar a cilada que o levaria ao hospital policial em que foi mantido por horas como refém.

A ousadia não surpreende quem acompanhou a ascensão do líder da Aliança País (AP) ao poder. Rafael Correa foi lançado candidato com a promessa de convocar uma Assembleia Constituinte, o que implicaria a dissolução do Congresso. Como garantia do compromisso, a AP se arriscou ao boicote das eleições legislativas, não lançando candidatos. Com a taxa de reprovação dos congressistas em 90% da população, de acordo com pesquisas realizadas às vésperas do pleito, o professor de economia, que não tinha histórico de militância partidária, mas sim no cristianismo progressista, capitalizou a insatisfação popular e iniciou a condução do processo de transformações ao qual daria o nome de Revolução Cidadã.